Hidrogênio verde do Chile: ‘para energia renovável 24 horas por dia, precisamos de armazenamento’

Um dos principais desafios para desbloquear o potencial do hidrogênio verde no Chile diz respeito ao aproveitamento da tecnologia para reduzir os custos de produção.

Um obstáculo que os projetos precisam superar para manter a competitividade é garantir um fornecimento estável de eletricidade limpa a preços competitivos para alimentar eletrolisadores que consomem muita energia.

“Para os eletrolisadores, precisamos de energia 24 horas por dia”, disse à BNamericas Jaime Pino Cox, CEO chileno da empresa canadense de energia renovável Innergex. “Para energia renovável 24 horas por dia, precisamos de armazenamento.”

Cox destacou onde é necessário avançar, citando o fato de que as soluções de fornecimento de energia solar fotovoltaica com armazenamento ainda não são suficientemente competitivas.

“Portanto, temos dois desafios: um é reduzir o custo da energia, 24 horas por dia; e o outro é tentar obter eletrolisadores mais eficientes que possam funcionar talvez com preços mais altos.”

Pino, que falou na conferência Renmad Chile sobre armazenamento e hidrogênio verde, realizada esta semana na capital Santiago, disse que a empresa estava testando a tecnologia de eletrolisadores no Canadá, mas que, por enquanto, as energias renováveis ainda são seu foco principal.

Graças à abundância de energia solar, o fornecimento de eletricidade durante o dia – pelo menos no norte do Chile – é barato, mas os preços aumentam quando o sol se põe. Isso representa um possível obstáculo para os produtores de hidrogênio verde em potencial.

Recentemente, James Calaway, fundador e presidente da MAE, desenvolvedora de projetos de amônia verde, observou que a queda nos preços nos preços dos sistemas de energia solar fotovoltaica e de armazenamento estava aproximando os custos unitários do ponto ideal. A MAE está liderando o projeto de amônia verde Volta, de US$ 2,5 bilhões, o mais avançado do tipo no país.

Os preços das baterias caíram 10% no ano passado e a tendência continua, conforme divulgado no evento.

Volta é um dos seis projetos do setor de hidrogênio verde em grande escala em fase de revisão ambiental. O complexo está planejado para a região de Antofagasta, onde o governo local está trabalhando na construção de um roteiro de desenvolvimento. A eletricidade para o Volta viria de uma usina solar fotovoltaica planejada de 600 MW, que incluirá um sistema de armazenamento em bateria. A MAE também planeja extrair energia da rede, mas destacou os obstáculos que os custos do sistema representam.

O Chile possui vários projetos-pilotos de hidrogênio verde em funcionamento enquanto o país aguarda decisões finais de investimento sobre projetos em escala de megawatts e gigawatts.

O subsecretário de Energia, Luis Felipe Ramos, disse ao BNamericas que as coisas estão avançando, citando o impulso do estado chileno para o hidrogênio verde e a prioridade dada pelo presidente Gabriel Boric ao desenvolvimento do setor.

“Esperamos que, nos próximos dois anos, de 2024 a 2026, o fechamento financeiro dos projetos de hidrogênio verde seja alcançado, para que tenhamos desenvolvido e concluído nossa meta de 2030 com toda a infraestrutura necessária e o desenvolvimento do quadro regulatório para garantir que essa estrutura possa ser implementada dentro dos objetivos estabelecidos na estratégia nacional de hidrogênio verde de 2020 e no plano de ação para o hidrogênio verde que foi publicado", disse Ramos.

Para ajudar a atrair investimentos e sinalizar o compromisso do Chile com o desenvolvimento do hidrogênio, a agência estatal Corfo construiu uma instalação de US$ 1 bilhão para ajudar a eliminar o risco de projetos e reduzir o custo de capital.

A Corfo agora está mudando seu foco para estimular a demanda local por hidrogênio verde e seus derivados.

A agência também está oferecendo subsídios para promover a criação de fábricasplantas de fabricação ou montadoras de eletrolisadores  em solo chileno. 

MINERAÇÃO

A indústria de mineração, por sua vez, demanda grandes volumes de energia limpa, 24 horas por dia, 7 dias por semana, a custos competitivos, informou Alfredo Solar, CEO da geradora Atlas Renewable Energy no Chile e no Cone Sul.

O norte do Chile, sede de grandes operações de mineração, tem condições naturais ideais para ageração e armazenamento solar e é a “cereja do bolo”, uma parte fundamental da solução, conforme mencionado no evento.

Isso ocorre em um contexto de perspectivas para uma maior demanda por soluções "behind the meter" – para limitar a exposição aos custos do sistema – e por certificação de energia limpa, que pode ajudar os produtores a obter prêmios de preço para metais o cobre, extraído com energia de baixa emissão.

Diante disso, as autoridades precisam abordar, para todos os consumidores de eletricidade, a questão dos custos do sistema, disseram os participantes do evento.

O preço da eletricidade no Chile tem apresentado uma tendência de queda, impulsionada pelas tecnologias renováveis, mas os custos do sistema – ligados a múltiplos fatores, incluindo encargos de serviços complementares, limites de flexibilidade do sistema e encargos associados a um regime de estabilização de preços da geração distribuída – tendem a contrabalancear esses ganhos.

DESAFIOS REGULATÓRIOS

Rossana Gaete, gerente global de hidrogênio da geradora AES Andes, destacou que, na fase de desenvolvimento, um dos focos regulatórios está nas relações com a comunidade. Outro aspecto importante é a obtenção das permissões ambientais.

Karla Chace, diretora da unidade de combustíveis do Ministério da Energia, mencionou que foi realizado um diagnóstico regulatório para identificar o trabalho necessário até 2030. Ela enfatizou que os processos precisam ser ágeis para adaptar as regulamentações às novas tecnologias e requisitos que surgirem.

A coordenação e colaboração entre setores público e privado são fundamentais – e estão sendo observadas – para impulsionar o avanço dos projetos, conforme afirmado durante o evento.