Indústrias de energia e minerais se preparam para guerra comercial na América do Norte

Produtos energéticos e minerais provavelmente estarão na linha de frente de uma guerra comercial na América do Norte se Donald Trump impuser tarifas sobre importações do Canadá e do México, revelaram ex-negociadores comerciais nesta quinta-feira (16).

Espera-se que Trump imponha tarifas de até 25% sobre as importações do México e do Canadá logo após sua posse em Washington, na próxima segunda-feira (20). A medida pode desencadear uma guerra comercial entre os três países. Recursos naturais como petróleo e gás provavelmente estarão na mira de qualquer disputa, especialmente entre EUA e Canadá.

“Esta é uma ação muito agressiva e teremos que responder”, disse Steve Verheul, negociador-chefe do Canadá durante as negociações sobre o acordo comercial México-EUA-Canadá (conhecido como T-MEC), nesta quinta-feira (16).

“Da perspectiva do Canadá, provavelmente nossas alavancas mais eficazes estarão no setor de recursos, sejam minerais essenciais ou petróleo e gás”, disse Verheul, falando durante um webinar organizado pelo Wilson Center, um centro de estudos de política externa sediado nos EUA.

Ações retaliatórias do Canadá se concentrarão no que Verheul classificou como “principais instrumentos de negociação do país: energia, minerais críticos, vários recursos naturais que os EUA não produzem o suficiente para suprir suas próprias necessidades. Eles dependem muito do Canadá.”

A associação American Fuel & Petrochemical Manufacturers (AFPM) estima que cerca de 60% das importações de petróleo bruto nos EUA vêm do Canadá, enquanto cerca de 11% vêm da estatal mexicana Pemex.

RETALIAÇÃO MEXICANA

“O México, sem dúvida, retaliará […], muito provavelmente no mesmo grau que os EUA”, disse Juan Carlos Baker, subsecretário de Comércio Exterior do México durante as negociações do T-MEC, no webinar.

O especialista não especificou quais importações dos EUA podem ser alvo de ações retaliatórias do México. Ao escolher quais produtos atingir, o governo mexicano consideraria fatores como seu impacto político, a potencial contribuição para a inflação e se há fontes alternativas de fornecimento.

Baker considera que quaisquer tarifas cobradas pelos EUA também seriam uma violação do T-MEC. No caso de tarifas dos EUA serem impostas, o México provavelmente iniciaria um painel de solução de controvérsias sob os auspícios do T-MEC.

REVISÃO DO ACORDO

A ameaça tarifária ocorre no momento em que o tempo se esgota para uma revisão programada do T-MEC em 2026.

Os participantes do webinar disseram que, dos vários cenários para 2026, era provável que os três países não decidissem estender imediatamente o acordo.

Em vez disso, o T-MEC estaria sujeito a revisões anuais pelos 10 anos seguintes.

“O resultado provável é que tenhamos uma negociação constante e graduada”, disse Earl Anthony Wayne, ex-embaixador dos EUA no México, no webinar. “Só não creio que Trump irá renunciar à sua influência. Ele vai querer manter essa capacidade de intervir […] para pressionar ambas as partes a darem mais em certas áreas.”

Wayne não acredita que Trump terá tudo do seu jeito nas negociações. “Se ele começar a aumentar os preços e a criar problemas de fornecimento para empresas dos EUA, isso vai custar muito caro. Ele tem muitos apoiadores de estados que estão ganhando muito com o comércio com o México e o Canadá”, acrescentou.

“É do interesse de todos os três países que o T-MEC sobreviva”, concluiu Verheul. “Caso contrário, estaremos em uma situação pior. Espero que o bom senso prevaleça.”