Mineradoras mexicanas enfrentam violência do narcotráfico e concessões são suspensas

A violência do narcotráfico e o congelamento de novas concessões estão impedindo o progresso da indústria da mineração do México, interrompendo o desenvolvimento de projetos e tornando partes do país zonas proibidas.

As empresas de mineração e exploração também estão sendo impactadas pela lentidão no licenciamento e pela falta de conhecimento do setor na administração do presidente Andrés Manuel López Obrador (AMLO).

Estes desafios estão pesando sobre o investimento, pois o setor busca aproveitar o aumento dos preços dos principais metais do México – ouro, prata e cobre – e se recuperar da Covid-19.

Mas a enorme riqueza mineral do país e o potencial para novas descobertas importantes continuam a atrair interesse, juntamente com uma força de trabalho qualificada e baixos custos, segundo fontes do setor.

CRIME ORGANIZADO

“No lado negativo, você tem a altamente divulgada violência do narcotráfico, que afeta certas partes do México em um grau extremo, em alguns casos”, disse à BNamericas o geólogo Peter Megaw, diretor de exploração da MAG Silver, que está avançando no projeto de prata e ouro Juanicipio, de US$ 440 milhões, em parceria com a Fresnillo.

As mineradoras operam em grandes redutos de cartéis, com grupos rivais disputando o controle em estados como Guerrero, Sonora, Chihuahua, Zacatecas e Sinaloa.

Embora os cartéis tradicionalmente se concentrem no tráfico de drogas, a queda nos preços da heroína os forçou a diversificar para outras atividades, como a extorsão de mineradoras e seus trabalhadores.

O nível de risco para as mineradoras depende da localização e muda à medida que as fronteiras entre os territórios dos cartéis se alteram, de acordo com Megaw, embora a maioria dos assassinatos são de participantes ativos de gangues, e não de moradores ou empresas, ele acrescentou.

“Você tem áreas no sul do México [onde os cartéis] estão tão fortemente no controle que se torna um lugar perigoso para explorar, e há lugares no nordeste do México que são da mesma maneira”, afirmou Megaw, que tem mais de 40 anos de experiência no país.

“Desistimos de vários projetos no nordeste do México há 6 ou 7 anos porque o cartel Zeta era extremamente violento e não havia como colocar nossos trabalhadores em risco.”

Enquanto cartéis há muito estabelecidos em algumas áreas, como Sinaloa, historicamente deixaram as minas e a população local em paz, um novo foco surgiu em Zacatecas, o estado com a maior produção de prata do país, onde dois grupos rivais lutam pelo controle.

“Espero que não dure muito porque é assustador para as pessoas e para investidores à distância, embora a maior parte dessa violência seja aplicada a pessoas que estão nesse mundo [criminoso]”, acrescentou Megaw.

CONGELAMENTO DE CONCESSÕES

No front político, o congelamento de novas concessões minerais pelo governo AMLO é um dos principais desafios do setor.

AMLO se orgulha dessa postura, afirmando que vastas áreas do país foram entregues com muita facilidade às empresas de mineração nas administrações anteriores.

“Essa tem sido uma preocupação para as empresas que estão trabalhando em áreas nas quais desenvolvem uma nova ideia e querem entrar com uma grande reivindicação regional e iniciar o trabalho”, disse Megaw.

Mas muitas empresas acumularam grandes áreas de concessões e provavelmente não terão grandes problemas como resultado do congelamento, acrescentou.

As concessões existentes também foram respeitadas e as autoridades não pararam de aceitar pedidos para novas.

“Se há uma área que você identifica como de alto potencial, você pode pedir uma concessão para ela. Você não receberá o título, pelo menos durante a administração AMLO, até onde sabemos, mas estará protegido. Ninguém mais poderá solicitar uma concessão sobre o mesmo local”, acrescentou Megaw.

As autoridades também não pararam de outorgar pedidos de concessão que estavam em andamento antes da posse de AMLO, embora o processo tenha se tornado bem mais lento.

“É difícil dizer quanto do atraso (…) se deve à Covid-19 e quanto tem a ver com areia nas engrenagens do governo”, disse ele.

DESACELERAÇÃO NOS LICENCIAMENTOS

Essa desaceleração afetou tanto os licenciamentos quanto as concessões.

Muitos projetos foram suspensos devido a um acúmulo de pedidos de licença, refletindo uma postura mais dura do ministério do meio ambiente Semarnat, juntamente com a redução de pessoal e a Covid-19.

“A velocidade das atuais aprovações do governo diminuiu em relação a antes e é algo que poderia ser melhorado”, disse o CEO da Discovery Silver, Taj Singh, à BNamericas.

O conhecimento do governo sobre mineração também poderia melhorar bastante, de acordo com Singh, com as críticas dos políticos ao histórico ambiental e social do setor prejudicando a relação.

“Seria ótimo ver alguns especialistas ou consultores do governo que realmente entendessem os benefícios que a mineração pode trazer, para educar os funcionários do governo sobre os efeitos que seus comentários imprudentes e infundados podem ter”, segundo Singh.

A Discovery está avançando com seu projeto de prata primária Cordero, de US$ 368 milhões, após concluir uma avaliação econômica preliminar em novembro.

PONTOS FORTES

Os principais pontos fortes oferecidos pelo México enquanto uma jurisdição de mineração incluem mão de obra qualificada e uma forte cultura mineradora, que se originou de uma longa história no setor.

“A cultura mineradora está arraigada nas pessoas, e há uma profunda fonte de trabalho e conhecimento para se extrair”, disse Singh.

Esta visão é compartilhada por Megaw.

“Os trabalhadores da mineração, exploradores e engenheiros no México estão no mesmo nível de qualquer outro lugar do mundo, e há um grande número deles”, disse ele.

Apesar das atuais concessões e desafios de licenciamento, o processo de levar um projeto adiante geralmente é bastante eficiente, acrescentou Singh.

“Além disso, soma-se o quão favoráveis são os custos no México, tanto em termos de custos operacionais quanto de capital. Eu classificaria o México entre as principais jurisdições do mundo.”

Outro ponto forte é a presença de uma grande indústria mineradora nacional, dominada por Grupo México e Industrias Peñoles, juntamente com a subsidiária de metais preciosos Fresnillo.

“Como o México tem uma indústria de mineração doméstica muito forte, isto dificulta que o governo escolha a mineração para impostos especiais”, disse Megaw.

AMLO não aumentou os impostos corporativos ou o imposto especial de mineração no México, de 7,5%, embora alguns políticos do partido do governo, o Morena, tenham defendido taxas mais altas.