O cenário díspar para 3 siderúrgicas na Argentina

Enquanto as siderúrgicas Acindar e Tenaris enfrentam problemas devido à baixa demanda na Argentina, a concorrente Sidersa avalia investir US$ 300 milhões em uma nova planta por meio do Regime de Incentivo a Grandes Investimentos (RIGI).

A Acindar, unidade da ArcelorMittal, paralisará mais uma vez as operações de sua planta na província de Santa Fé, enquanto a Tenaris teve que paralisar sua fábrica de tubos de aço sem costura, localizada na mesma província, o que pressiona o fornecimento de insumos para o setores de mineração e hidrocarbonetos.

“A situação é complicada. As importações de vergalhões e chapas de aço inox para caminhões e colheitadeiras estão suspensas. A Acindar chegou a entrar em contato com alguns importadores para avisar que poderiam oferecer seus produtos com preços especiais aos seus clientes para não perder negócios”, afirmou à BNamericas uma fonte da Stern Trading que pediu anonimato.

Após paralisar a área de redução direta de ferro e a siderúrgica, a Acindar vai agora suspender os laminadores, que voltarão a operar abaixo da sua capacidade por um período de 120 a 135 dias, indicou a imprensa local.

Em março, a empresa suspendeu as atividades da fábrica de Villa Constitución, juntamente com outras três no país, uma vez que a demanda interna em setores como construção, obras públicas e energia tinha caído cerca de 40% nos primeiros meses do ano, segundo um relatório da empresa.

O plano atual da Acindar visa reduzir a produção de aço bruto, de 1,2 milhão para 600 mil toneladas por ano, embora alguns analistas prevejam que o volume será menor.

No primeiro trimestre de 2024, as vendas da ArcelorMittal aumentaram 12,6% no interanual, ficando em cerca de US$ 3,1 bilhões, principalmente devido ao aumento nos preços. O número, contudo, foi compensado por uma redução de 10,7% em seus despachos de aço, além de uma queda na demanda na Argentina, segundo relatório trimestral da empresa.

“Em abril, 53% das empresas registraram quedas na produção, 60% nas vendas, 37% nas exportações e 24% no emprego”, afirmou em documento a Unión Industrial Argentina.

As baixas vendas locais foram agravadas pelas importações originárias de fora da América Latina. Em março, as internações extrarregionais representaram 92,5% do total e 40% do consumo aparente, ante 37% em fevereiro, informou este mês a Associação Latino-americana do Aço (Alacero) em relatório.

Em entrevista recente à BNamericas, Thais Terzian, analista siderúrgica da consultoria CRU, comentou que há outros desafios regionais, como altas taxas de juros, baixo investimento, baixo crescimento do PIB e baixa produção industrial.

Porém, durante evento local em junho, Javier Martínez, presidente da Tenaris para o Cone Sul, defendeu o projeto da Lei de Bases e o RIGI, que faz parte da legislação, como necessários para sanear a macroeconomia argentina.

A Lei de Bases, proposta pela gestão do presidente Javier Milei, está sendo debatida na Câmara dos Deputados.

INVESTIMENTO

A empresa pretende aproveitar o RIGI para construir uma planta de ferro de 360 mil toneladas por ano em San Nicolás, na província de Buenos Aires, segundo comunicado do governo.

A proposta considera US$ 100 milhões para a importação de tecnologias e US$ 200 milhões para a produção de insumos que seriam destinados tanto ao mercado nacional quanto ao externo.

Além de contribuir com 300 empregos diretos e 3.500 indiretos, a instalação contaria com tecnologias ecologicamente corretas e soluções sustentáveis, como a integração das fases de siderurgia e laminação, reciclagem de sucata e eficiência energética.