O estado da conectividade rural na América Latina

A América Latina e o Caribe estão em dívida com o setor rural devido ao grande déficit de conectividade em algumas áreas.

Cerca de 72 milhões de residentes rurais de 26 países da região não têm acesso à conectividade com padrões mínimos de qualidade, segundo relatório do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).

A conectividade é essencial para o desenvolvimento tecnológico do setor agrícola, e já há estudos que destacam os benefícios econômicos derivados de trazer mais antenas para áreas rurais.

Por exemplo, no Brasil, um dos principais polos agrícolas da América Latina, a instalação de quase 11 mil antenas e torres de telecomunicações em áreas rurais até 2026 – para aproximar a cobertura dessas áreas de 90 – poderia gerar ganhos econômicos em torno de R$ 101 bilhões (US$ 19,7 bi), segundo o Ministério da Agricultura.

O relatório do IICA indica uma melhora de 12% na chamada “conectividade rural significativa” na América Latina no período 2020-2022. A conectividade rural significativa é um conceito desenvolvido pela coalizão global Alliance for an Accessible Internet (A4AI), que implica não apenas acesso à rede, mas regularidade e qualidade da conexão.

No entanto, as operadoras móveis têm realizado mais implantações de redes móveis em áreas rurais devido a compromissos de cobertura vinculados a leilões de espectro, incentivos regulatórios ou mesmo às necessidades do setor agrícola.

Por exemplo, a Telecom Argentina acaba de anunciar a ativação do 4G na cidade de La Chispa, na província de Santa Fe, visando oferecer serviços agtech para o setor agrícola.

Os reguladores da América Latina e do Caribe também estão focados em trazer mais conectividade para as áreas rurais e reduzir a distância entre as cidades e o setor rural.

Segundo o estudo do IICA, 79% da população urbana conta com serviços significativos de conectividade, enquanto na população rural a cifra é de 43,3%.

A última licitação de espectro 4G na Colômbia já incluía obrigações de cobertura em áreas rurais. No Peru, a licitação de espectro que acaba de ser publicada pela agência ProInversión busca cobrir pequenas cidades rurais e isoladas.

Os países com conectividade rural menos significativa, segundo o estudo do IICA, são Bolívia, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Nicarágua e Venezuela.

Graças às melhorias nos indicadores de conectividade entre 2020 e 2022, Jamaica, El Salvador, Belize e Peru progrediram e se juntam a México, Colômbia, Equador, República Dominicana, Paraguai e Suriname na conectividade rural média.

Os 10 países com alta conectividade rural significativa são Argentina, Chile, Panamá, Barbados, Bahamas, Belize, Costa Rica, Uruguai, Brasil e Trinidad e Tobago.

Na Argentina, um estudo recente do instituto de tecnologia agrícola INTA indica que 92% das empresas agrícolas consultadas nas províncias de Córdoba, Santa Fé e Buenos Aires utilizam aplicativos e plataformas em alguma etapa da produção.

Em contraste, a ONG colombiana C4IR.CO revelou no ano passado que apenas 31% do setor agrícola utiliza tecnologia para assistência técnica ou produção. Em geral, ela é utilizada por grandes empresas agrícolas.

A C4IR indica que um dos desafios da região é garantir que a tecnologia seja acessível a pequenas empresas ou provedores, o que resultaria em grandes benefícios.

No entanto, isto não é tão simples, uma vez que o IICA identifica vários obstáculos persistentes para melhorar a conectividade rural, como a dificuldade em usar os fundos de acesso universal, problemas de instalação devido à infraestrutura deficiente (falta de eletricidade, condições das estradas etc.), altos custos de investimento e a escassez de estímulos que estimulem o investimento no meio rural, para além da dificuldade de acesso em regiões mais remotas.