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O potencial do Brasil para fortalecer sua posição na geopolítica do petróleo

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O potencial do Brasil para fortalecer sua posição na geopolítica do petróleo

A invasão da Ucrânia pela Rússia e as sanções resultantes levantaram preocupações de segurança energética no Brasil, embora a crise também ofereça ao país o potencial para se tornar um ator mais forte na geopolítica do petróleo.

Em 11 de março, o Ministério de Minas e Energia (MME) instituiu a Comissão Nacional de Monitoramento do Abastecimento de Combustíveis e Biocombustíveis para propor ações relacionadas ao abastecimento interno de combustíveis, tendo em vista a conjuntura geopolítica que afeta os mercados de energia, especialmente o petróleo.

A comissão é apoiada pelos poderes executivo e legislativo, e algumas medidas já foram aprovadas. Entre eles estão a alteração do cálculo do ICMS para gasolina, etanol anidro, óleo diesel, biodiesel e gás liquefeito de petróleo (GLP). Mas a implementação depende dos estados e do Distrito Federal.

A medida também elimina os tributos federais sobre óleo diesel, biodiesel, GLP e querosene de aviação (QAV), especialmente as alíquotas da contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins.

Enquanto isso, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse que o Brasil aumentará a produção de petróleo para conter a alta do preço do petróleo e garantir o abastecimento do mercado global a pedido de Washington.

Um porta-voz do ministério disse à BNamericas que as perspectivas de maior produção de petróleo são “muito otimistas”.

O porta-voz disse que “a expansão deverá atingir mais de 70% nos próximos 10 anos, alcançando 5,3 Mb/d (milhões de barris por dia) e indicando que o país manterá seu status de exportador”.

Este ano, a produção nacional de petróleo deverá aumentar cerca de 7,3% em relação ao ano passado.

“O Brasil, como grande player na exploração e produção de petróleo e gás natural, criou as condições de segurança jurídica e atratividade para novos investimentos e aumento progressivo da produção de petróleo e gás natural”, acrescentou o porta-voz.

De acordo com os últimos dados da ANP, a produção nacional de petróleo em janeiro totalizou 3 MMb/d, dos quais cerca de 1 MMb/d foi exportado em média, com a Petrobras respondendo por cerca de metade desse valor.

“O excedente de petróleo exportável da Petrobras está, em média, em 500 a 600 mil b/d”, disse um porta-voz da empresa à BNamericas, acrescentando que até agora a carteira de compradores de petróleo da Petrobras permanece praticamente inalterada.

Fernanda Delgado, diretora executiva do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), disse que preços mais altos e preocupações com segurança energética indicam um retorno dos investimentos em E&P, especialmente no Brasil.

“Com essa sinalização de investimentos, os países da OCDE vão buscar fontes de energia em nações mais estáveis, e o Brasil tem um ambiente interno mais estável do que outros grandes exportadores, como Nigéria, Rússia e Emirados Árabes Unidos. Então seria mais interessante ter o Brasil como fornecedor”, disse ela à BNamericas.

O secretário-executivo da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo (Abpip), Anabal dos Santos Junior, disse que os investimentos podem vir para o Brasil, mas não apenas em função da guerra.

“Os investimentos em E&P são feitos a longo prazo e estamos vivendo um período de grande volatilidade com altos e baixos muito abruptos”, disse ele à BNamericas.

Mas Santos Junior destacou que preços mais altos de petróleo e gás podem levar operadoras independentes a iniciar projetos antes inviáveis.

“Especialmente aqueles com menor investimento e menor produção. Esses projetos de baixo VPL [valor presente líquido] podem ser viáveis em tempos de expansão como esses”, disse ele.

Os investimentos podem ser redirecionados para o Brasil se a Rússia continuar sendo um mercado hostil, de acordo com Rodrigo Leão, coordenador técnico do think tank de petróleo Ineep.

“Mas isso vai depender do ritmo das novas rodadas de licitações e do apetite das empresas. Também porque seus investimentos lá estavam muito concentrados em GNL [gás natural liquefeito], um perfil de projeto diferente”, disse ele à BNamericas.

Cristiano Pinto da Costa, vice-presidente executivo da Shell Brasil, não previu possíveis impactos nos novos projetos ou campanhas exploratórias da petroleira.

“O que posso dizer é que nossa ambição de buscar o crescimento aqui permanece inalterada. Em geral, vejo que a indústria está especialmente atenta às discussões sobre como garantir o abastecimento nos próximos meses”, disse ele à BNamericas.

Um dos grandes empreendimentos locais da Shell é o campo Gato do Mato, no pré-sal da bacia de Santos, cujo FPSO está sendo licitado e o primeiro óleo está previsto para cerca de 2025.

Outro player importante no Brasil, a norueguesa Equinor, continua confiante nas perspectivas de negócios. No Brasil, ela possui ativos de E&P que exigem investimentos por mais 40 ou 50 anos.

“É importante que o Brasil crie as condições necessárias para atrair investimentos e viabilizar a continuidade dos projetos, pois nossos empreendimentos no Brasil concorrem com os demais projetos do portfólio global da Equinor. Os investidores precisam de previsibilidade, uma estrutura estável e respeito aos contratos, e o Brasil está progredindo no caminho certo”, disse um porta-voz da empresa à BNamericas.

Os projetos da Equinor incluem o campo Bacalhau, na bacia de Santos, com início de produção previsto para 2024, e o bloco BM-C-33, em Campos, cujo cronograma ainda não foi definido.

A produção no campo de Peregrino da empresa foi interrompida desde abril de 2020, mas um reinício está planejado para o verão do hemisfério norte.

O primeiro óleo da fase II de Peregrino, que prolongará a vida útil e o valor do campo e adicionará entre 250 e 300 MMb, está previsto para o mesmo período.

Operadora de petróleo e gás em rápido crescimento, a 3R Petroleum planeja investir US$ 120 milhões em 2022, e US$ 750 milhões até 2025, no desenvolvimento de oito ativos de produção de petróleo e gás adquiridos, principalmente por meio de desinvestimentos da Petrobras.

“O foco da empresa está no desenvolvimento orgânico de seu portfólio, começando pela execução dos planos de desenvolvimento dos ativos de forma eficiente e segura, com expectativa de aumento de produção”, disse um porta-voz à BNamericas.

OPORTUNIDADES REGIONAIS

Em outras partes da América do Sul, as produtoras de petróleo também podem se beneficiar.

Na Guiana, espera-se que a ExxonMobil e a Hess registrem lucros maiores devido aos altos preços do petróleo, enquanto o governo considera os embargos ao petróleo russo uma oportunidade para atrair investimentos e acelerar os desenvolvimentos de E&P.

Na Colômbia, a reguladora ANH indicou recentemente que uma nova rodada de petróleo e gás será lançada em breve.

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