Os investimentos chineses anunciam uma nova era para a mineração brasileira?

Os players chineses estão demonstrando um interesse renovado pela indústria de mineração brasileira, como evidenciado por dois recentes acordos de grande relevância.

O grupo chinês Baiyin Nonferrous anunciou a aquisição da Mineração Vale Verde, pertencente à Appian Capital Advisory em uma transação avaliada em US$ 420 milhões. O acordo, divulgado no final de novembro, aguarda aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e do governo chinês, com conclusão prevista para o início de 2025. A Mineração Vale Verde é proprietária da mina de cobre e ouro Serrote, localizada em Alagoas.

Também em novembro, a mineradora polimetálica peruana Minsur, por meio de sua subsidiária Minera Latinoamericana, chegou a um acordo para vender a empresa brasileira Mineração Taboca para a chinesa CNMC Trade Company Limited por US$ 340 milhões.

A Taboca opera a mina de estanho, nióbio e tântalo de Pitinga, no estado do Amazonas, e administra a fundição de Pirapora, em São Paulo, onde também está sua sede corporativa.

Essas transações destacam o foco contínuo da China no Brasil e o fortalecimento dos laços entre os líderes dos países. No mês passado, durante a cúpula do G20 no Rio de Janeiro, o presidente chinês Xi Jinping se encontrou Luiz Inácio Lula da Silva para tratar de acordos e relações bilaterais.

“É claro que a proximidade política entre os presidentes dos dois países ajuda nas negociações, mas não vejo as duas operações recentes como o início de uma onda de investimentos chineses no setor de mineração brasileiro. Neste momento, é mais preciso enxergá-las como transações pontuais, até porque não ha indicações de outras conversas avançadas em andamento entre investidores chineses com empresas do setor mineral”, disse à BNamericas José Carlos Martins, sócio-gerente da Neelix Consulting Mining & Metals e ex-executivo da Vale.

Martins também observou que, antes desses acordos, a China Molybdenum Co. (CMOC) e a Sul Americana de Metais (SAM), uma subsidiária da Honbridge Holdings, estavam entre os principais stakeholders chineses no setor de mineração brasileiro. A CMOC possui uma mina de nióbio em Catalão, Goiás, anteriormente adquirida da Anglo American, e a SAM controla o projeto de minério de ferro Bloco 8, em Minas Gerais.

“Apesar de considerar essas operações pontuais, isso não significa que não veremos outros negócios no futuro. O segmento de lítio, onde a China domina toda a cadeia de suprimentos – da produção de lítio à fabricação de baterias –, é um segmento com grande chance de no futuro vermos se concretizar algum investimento chinês no Brasil”, acrescentou Martins.

Historicamente, a China tem uma conexão profunda com o setor de mineração brasileiro. O país asiático compra 70% da produção de minério de ferro, a principal commodity mineral do Brasil, além de ser o maior comprador de nióbio, cobre e manganês produzidos no país. 

Dinâmica entre EUA e China

A rivalidade geopolítica global entre China e Estados Unidos também está influenciando o cenário da mineração no Brasil.

Demonstrando interesse no setor, os EUA recentemente apoiaram uma iniciativa na mineração de lítio. A empresa Lithium Ionic Corp, listada no Canadá, anunciou no final de novembro que recebeu uma carta de interesse não vinculativa do Export-Import Bank dos Estados Unidos (EXIM) para um financiamento de até US$ 266 milhões em dívida.

“Este financiamento representa 100% do [...] capex descrito no estudo de viabilidade de maio de 2024, representando um marco fundamental à medida que a empresa avança em direção à construção e produção nos próximos dois anos”, afirmou a Lithium Ionic em um comunicado.