Por que a dessalinização não decola no México

Os altos custos de investimento e o modelo operacional do México são duas razões pelas quais os projetos de dessalinização são tão raros no país, de acordo com um especialista.

“O problema é que outros países são muito claros sobre quem é responsável por construir, operar e pagar pela água que é obtida através das usinas de dessalinização”, disse Hugo Rojas Silva, diretor da associação da indústria de água e saneamento ANEAS, à BNamericas, acrescentando que o abastecimento de água é de responsabilidade dos municípios.

“A dessalinização ainda tem um custo maior do que todos os outros métodos de abastecimento e, dada a nossa situação econômica, as operadoras não podem cobrar taxas precisas para abastecer [as localidades]. Então, os projetos de dessalinização ficam inviáveis porque não haverá fonte de pagamento dessa fonte de financiamento”, afirmou.

Diante dessa questão, os municípios optam por outros projetos, de acordo com Rojas, na maioria das vezes perfurando mais poços ou superexplorando aquíferos.

Em 2022, os estados do norte enfrentaram uma seca recorde, mas em vez de escolher usinas de dessalinização, a autoridade de água Conagua propôs grandes projetos de aquedutos.

As usinas de dessalinização “devem ser uma opção muito importante para todos os estados que sofrem” com a falta de água potável, disse Rojas.

Carteira pequena

O portfólio de dessalinização do México envolve cinco projetos na península de Baixa Califórnia e no estado de Sonora. Uma está em andamento, duas suspensas, uma licitação está sendo estruturada e uma delas envolve uma proposta em estágio inicial que beneficiaria os Estados Unidos, segundo o banco de dados da BNamericas.

O projeto em andamento é a usina de dessalinização de Los Cabos, no estado de Baja California, no valor de 3,6 bilhões de pesos (US$ 181 milhões), na qual a concessionária de água de Los Cabos, Oomsapas, começou a trabalhar em dezembro por meio de uma parceria público-privada. Um consórcio formado pela La Peninsular Compañía Constructora e Acciona Agua detém a concessão de 25 anos para projetar, construir, operar e manter a usina, com construção prevista para dois anos.

Os projetos suspensos envolvem a usina de dessalinização de US$ 454 milhões de Playas de Rosarito, perto de Tijuana, cancelada em 2020 pelo ex-governador Jaime Bonilla, e a usina de dessalinização de 570 milhões de pesos San Quintin, também em Baja California, suspensa em 2022 por falta de financiamento.

No final do ano passado, a governadora Marina del Pilar Ávila apresentou planos para reiniciar as obras, mas as atualizações não foram fornecidas.

Em 2021, o governo federal anunciou duas licitações de PPP para aquele ano para construir uma usina de dessalinização em La Paz, estado de Baja California Sur, e modernizar o sistema de distribuição de água da cidade. Mas as licitações nunca foram lançadas, embora continuem fazendo parte da carteira do banco de fomento Banobras.

Um consórcio liderado pela empresa israelense IDE Technologies apresentou em dezembro uma proposta às autoridades dos Estados Unidos para construir uma usina de dessalinização de US$ 5,5 bilhões em Puerto Peñasco, no estado mexicano de Sonora, e vender a água para o Arizona a partir de 2027.

A autoridade financeira de infraestrutura hídrica do Arizona está analisando a oferta, mas não se espera uma decisão antes de sua próxima reunião, em 25 de janeiro.