Potencial de minerais estratégicos impulsiona M&As na mineração brasileira

A mineração brasileira registrou um número recorde de fusões e aquisições (na sigla em inglês, M&As) no ano passado, em um ritmo que deve continuar em 2025, impulsionado pelo significativo potencial do país em minerais estratégicos.

O setor registrou 30 operações de fusões e aquisições, ante 21 em 2023. O número é o maior desde 2014, quando os recordes começaram, segundo levantamento da KPMG.

“Estamos vendo uma tendência crescente de vendas de projetos, trocas de portfólio, farm-ins, farm-outs, com muita atividade relacionada a aquisições de áreas associadas a minerais críticos, como lítio, terras raras, entre outros. Essa tendência começou a ganhar força em 2023 e se acelerou em 2024, e devemos ver sua continuidade ao longo deste ano”, disse à BNamericas Paulo Guilherme Coimbra, sócio e diretor de infraestrutura, energia e recursos naturais no Brasil da consultoria KPMG.

“Nos últimos anos, vimos a mineração ganhando espaço nas agendas de ESG e inovação, com minerais críticos sendo cada vez mais demandados e stakeholders de outros setores entrando no segmento para garantir o fornecimento. Essa cena sempre foi muito comum no setor de energia, onde empresas de outros segmentos compravam ativos para garantir o fornecimento, e agora está começando a mostrar sinais de que isso também pode acontecer na mineração”, acrescentou.

A atividade de M&As tende a aumentar quando empresas juniores enfrentam dificuldades para financiar seus projetos.

“Em tempos de altas taxas de juros, como temos no Brasil hoje – o que também dificulta o financiamento através do mercado de capitais – uma operação de M&A é, de fato, uma opção de financiamento que deve ser considerada”, comentou à BNamericas Alexandre Pierantoni, chefe de finanças corporativas e M&A na Kroll.

O segmento local de mineração também é atraente para investidores estrangeiros, já que 12 das transações do ano passado envolveram a aquisição de um ativo por um player internacional.

“O Brasil oferece uma combinação única de mão de obra competitiva e qualificada, custos de energia acessíveis e um forte compromisso com a sustentabilidade ambiental e social. O país conta com depósitos ricos e de alta qualidade de níquel e outros minerais essenciais para a transição energética, e o governo está avaliando ativamente esses recursos e analisando como pode incentivar seu desenvolvimento”, afirmou à BNamericas em entrevista Mark Travers, CEO da britânica Brazilian Nickel.

Grande player global do minério de ferro, o Brasil está cada vez mais focado em impulsionar minerais associados à transição energética – como cobre, níquel e lítio –, o que pode abrir caminho para mais M&As.

Em fevereiro, Anglo American e MMG Singapore Resources, uma unidade da chinesa MMG, chegaram a um acordo definitivo sobre a venda das operações brasileiras de níquel da Anglo por US$ 500 milhões. O negócio envolve as operações de ferroníquel de Barro Alto e Codemin, além dos projetos greenfield de Jacaré e Morro Sem Boné.

O cazaque Eurasian Resources Group colocou a Bahia Mineração (Bamin) à venda, e um consórcio formado por Vale, Cedro Mineração e BNDES, juntamente com a britânica Brazil Iron, estão avaliando o ativo, conforme revelou à BNamericas uma fonte familiarizada com o negócio.