
Raio-x: estratégia de transformação digital do Chile para 2035

O Chile estabeleceu uma estratégia de transformação digital para 2035 com base no consenso da comissão de transportes e telecomunicações do Senado, da Cepal, da associação de operadoras Chile Telcos e da Câmara Chilena de Infraestrutura Digital.
Representantes dos setores público, empresarial, acadêmico e da sociedade civil estabeleceram um plano com metas sobre infraestrutura digital, competências e direitos digitais, governo digital e segurança cibernética, entre outros objetivos.
INFRAESTRUTURA DIGITAL
Um dos objetivos da estratégia é garantir que todos os habitantes do Chile tenham a possibilidade de se conectar à Internet em qualquer lugar do país. Segundo o plano, que cita dados baseados em informações das operadoras, existem pelo menos 20 municípios (ou 6%) sem acesso à banda larga fixa, embora alguns recebam conectividade parcial.
No caso da banda larga móvel, o Chile já ultrapassou 100% de cobertura, enquanto a penetração da banda larga fixa nas residências é de 75%.
A estratégia propõe atingir 90% de cobertura de 5G em 2025, 98% em 2030 e 100% em 2035.
As operadoras móveis Entel, Movistar e WOM estão avançando na implantação do 5G. A câmara estima o investimento de US$ 6 bilhões em infraestrutura 5G para o período de 2022 a 2031.
A cobertura de fiber-to-the-home (FTTH) deve chegar a 65% em 2025 e crescer gradualmente até a meta de 85% até 2035. A velocidade média deverá ser de 160 Mbps até 2025, 400 Mbps até 2030 e 900 Mbps até 2035.
As redes móveis deverão atingir uma média de 60 Mbps até 2025 e até 500 Mbps até 2035.
O Estado contará com redes de ultra-alta velocidade superiores a 400 Mbps em 100% de suas dependências em 2030 e 1 Gbps até 2035.
A estratégia prevê, ainda, uma penetração móvel de 80% até 2025 e 98% até 2035. A penetração fixa, por sua vez, deve ser de 85% até 2025, 90% até 2030 e 95% até 2035.
Para atingir estes objetivos, o roteiro propõe reconhecer a Internet como um serviço público, assegurar o financiamento de políticas de acesso universal, desenvolver um plano de conectividade digital, implementar um subsídio para a demanda, oferecer maior acessibilidade aos serviços, promover a implantação de Wi-Fi e incentivar o investimento, entre outras medidas.
Da mesma forma, prevê a ampliação do mandato e dos poderes da autoridade reguladora Sutel e a criação de um regulador com mais poderes.
DIGITALIZAÇÃO DA ECONOMIA
Para acelerar a transformação digital nos setores produtivos, o Chile deve promover planos de digitalização para pequenas e médias empresas (PMEs), estimular a inclusão financeira digital e incorporar tecnologias digitais avançadas em setores estratégicos, entre outros objetivos.
O plano recomenda a promoção do empreendedorismo e da inovação digital, bem como o apoio a acordos de integração regional que promovam a economia digital.
Como objetivos específicos, considera a adoção de ferramentas de comércio eletrônico para que, até 2025, 35% das empresas as tenham implementado alguma dessas iniciativas, número que deverá aumentar para 70% em 2035. Além disso, está prevista a formação de cerca de 10.000 empresas por ano.
Espera-se também que as startups de inteligência artificial, análise de dados, robótica e segurança cibernética representem 5% das empresas em 2025, 10% em 2030 e 15% em 2035.
A proposta visa aumentar os gastos em P&D como porcentagem do PIB para 1% em 2025, 2% em 2030 e 2,5% em 2035, além de aumentar o financiamento para empreendimentos de base tecnológica, o que permitirá aumentar os gastos per capita por ano de US$ 186 em 2020 para US$ 450 em 2035.
Outra meta é aumentar o financiamento por investimento anjo de 0,17% para 0,28% do PIB até 2035.
DIGITALIZAÇÃO DO ESTADO
De acordo com a estratégia, 95% dos procedimentos em nível nacional terão de contar com a possibilidade de realização online até 2025, e todos a partir de 2030. Além disso, todas as instituições deverão ter mecanismos digitais para a participação dos cidadãos.
Até 2025, a estratégia inclui o desenvolvimento de uma política nacional de dados.
HABILIDADES E DIREITOS DIGITAIS
O Chile tem o desafio de igualar a média da OCDE até 2035 no desenvolvimento de habilidades digitais, além de aumentar o número de profissionais em disciplinas relacionadas com ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, na sigla em inglês).
Segundo o documento, dos 80% da população que usa a internet no Chile, apenas 34% utilizam de forma avançada.
O plano propõe também a elaboração de um plano de reconversão para trabalhadores cujos empregos desapareceram devido à transformação digital até 2025.
A estratégia inclui o estabelecimento de uma lei de direitos digitais e um plano de educação, a aprovação da lei de proteção de dados pessoais, a definição de uma estratégia de dados abertos e a atualização da lei de assinatura eletrônica e identidade digital.
CIBERSEGURANÇA E GOVERNANÇA
De acordo com o índice de segurança cibernética desenvolvido pela Unidade Internacional de Telecomunicações, o Chile ocupa a 74ª posição mundial, atrás de seus pares da OCDE e de outros países latino-americanos, como Brasil, México, Uruguai e República Dominicana.
Para melhorar esta situação, os gastos com PD&I em cibersegurança, como percentual do PIB, devem aumentar de 0,1% em 2025 para 0,2% em 2030. Estabelece, também, a formação de 10.000 profissionais de cibersegurança.
O plano sugere a criação de um instituto nacional de segurança cibernética e de agências para a proteção de dados pessoais e infraestruturas críticas de informação.
A estratégia inclui a inauguração de um centro ibero-americano de habilidades de cibersegurança como uma ONG baseada em universidades nacionais e associada à rede de centros de investigação apoiada pelo Centro Global de Capacidades de Segurança Cibernética da Universidade de Oxford.
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