Scala Data Centers investe na Serena Energia para autoabastecimento de energia eólica

A Scala Data Centers, parte do grupo DigitalBridge, adquiriu participações minoritárias nas operações renováveis da Serena Energia em troca do fornecimento de energia eólica para seus datacenters.

A empresa está investindo em sociedades de propósito específico (SPE) controladas pela Serena, antiga Omega Energia, relacionadas a dois parques eólicos na Bahia. As participações adquiridas e o investimento feito não foram divulgados.

O acordo, protocolado esta semana no Cade para aprovação, ocorre dias depois de a Scala levantar R$ 1,3 bilhão (US$ 236 mi) em títulos verdes.

As duas operações da Serena investidas pela Scala são Assuruá 4 Subholding II Energia e VDB (Ventos da Bahia) F3 Geração de Energia.

Fabio Yanaguita, diretor de energia da Scala, revelou à BNamericas que o volume envolvido na transação praticamente triplica o portfólio de contratos da Scala na área de renováveis.

“A geração dos parques poderá ser alocada para qualquer datacenter da Scala no Brasil, conforme sua estratégia interna”, disse o executivo, acrescentando que o negócio se limita a estes projetos e não gera compromisso de exclusividade com a Serena para acordos futuros.

O complexo eólico Assuruá da Serena tem mais de 808 MW de capacidade instalada e está localizado nos municípios de Xique-Xique e Gentio do Ouro. O complexo é composto por 15 parques eólicos que, juntos, totalizam 240 turbinas.

Já Assuruá 4 é a mesma operação na qual investiu no ano passado a Odata, concorrente da Scala, conforme relatado em primeira mão pela BNamericas.

Com este investimento, a Odata afirma ter se tornado a primeira empresa de datacenter de hiperescala da América Latina a ter 100% do consumo de energia de seus sites proveniente da participação direta em projetos de energia renovável.

Ventos da Bahia é um complexo com mais de 182 MW de capacidade instalada, distribuídos em sete projetos com 108 aerogeradores. Fica no município de Mulungu do Morro.

A Serena faz parte da gestora de ativos Tarpon e desenvolve atividades em geração e comercialização de energia proveniente exclusivamente de fontes limpas. Fundada em 2002, a Tarpon é uma empresa de investimentos independente focada em ações públicas e privadas no Brasil.

Segundo dados da BNamericas, a Serena é a segunda maior empresa brasileira em número de projetos de energia renovável, com 139 empreendimentos monitorados e 2.804 MW de capacidade instalada contratada.

Ela fica atrás apenas da Pacto Energia, que tem sede em São Paulo e conta com 177 projetos em seu portfólio.

TENDÊNCIA CRESCENTE

Com o investimento direto, a Scala se junta à Odata e a um grupo crescente de big techs e empresas de datacenter que investem diretamente em companhias de energia renovável, em um modelo conhecido como autogeração ou autossuficiência.

As empresas de datacenter há muito apostam em energias renováveis, principalmente solar e eólica, para atender às suas crescentes necessidades de consumo de energia.

No entanto, o modelo mais comum tem sido por meio de contratos de compra de energia (PPAs) ou certificados internacionais de energia renovável (IRECs), em vez de investimentos de capital.

Segundo o Cade, a Scala alega que a operação visa gerar energia para consumo próprio e que permanecerá como investidora, com o único propósito de se firmar como “autoprodutor de parcela de energia elétrica que será gerada nos projetos eólicos” da Serena.

Segundo a Scala, a aquisição de ações não envolve controle e nem tem impacto competitivo, e solicitou que a análise do órgão regulador fosse “sumária”.

DEMANDA DE DATACENTERS

A Serena tem contratada cerca de 90% de sua produção assegurada de energia para 10 anos.

“Como o principal fornecedor de energia para empresas de tecnologia no Brasil, estamos direcionando esforços para avançar em diversas transações, com o objetivo de nos tornarmos o principal fornecedor de soluções em energia renovável para computação de alta performance e grandes cargas relacionadas à inteligência artificial”, disse a Serena em suas demonstrações financeiras do segundo trimestre, divulgada este mês.

“Recentemente, começamos a fornecer 20 MWm para uma operação de computação de alta performance em Assuruá, e outros acordos similares têm amadurecido. Até o final do ano, vislumbramos a possibilidade de ultrapassar 150 MWm de energia contratada para processamento de dados e IA no Brasil, combinando contratos de energia novos e existentes”, acrescentou.

A empresa também trabalha com vários clientes dos EUA para desenvolver modelos de fornecimento de energia renovável.

A expectativa de Serena é garantir novos acordos de compra com empresas de tecnologia nos próximos trimestres.