Scania reafirma investimentos no México apesar de ‘tempestade perfeita’

A montadora Scania confirmou um investimento de pelo menos US$ 200 milhões para expandir sua presença no México nos próximos cinco anos, apesar dos desafios econômicos decorrentes das ameaças tarifárias do governo dos EUA e de uma potencial recessão técnica neste ano.

O CEO local Alejandro Mondragón enfatizou que o México é o país mais exposto às tarifas de Donald Trump porque mais de 40% do PIB está conectado ao comércio com os Estados Unidos. “Mais de US$ 8 trilhões cruzam essa fronteira [por ano]”, disse ele na terça-feira  (18), durante a inauguração da 17ª filial da rede nacional de atendimento ao cliente da Scania em Tepotzotlán, estado do México.

“A situação é urgente, e é por isso que estou duplamente satisfeito que a Scania esteja reafirmando um investimento desse tamanho em um momento difícil. Esta é a nossa maneira de dizer ao país que a Scania, da Suécia, está no México para o longo prazo. Este não é um projeto de um ou dois anos. Estamos aqui para fazer parte da sociedade, para fazer parte do consórcio industrial do México”, acrescentou Mondragón.

Com o investimento, a meta da montadora é abrir ou modernizar 30 novas filiais, chegando a um total de 45 até 2029, confirmou o executivo à BNamericas. Só a filial do Centro do México exigiu 143 milhões de pesos (US$ 7 mi), replicando as filiais da Suécia tanto em design quanto em sustentabilidade. A empresa espera obter em breve a certificação internacional LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) para edifícios sustentáveis.

“Já estamos vendo como as projeções de crescimento para os Estados Unidos, para o produto interno bruto e para o México estão diminuindo. Sabemos que estamos quase à beira de uma recessão econômica técnica... É a tempestade perfeita. Mas é aqui que as empresas e os investimentos são verdadeiramente reconhecidos”, afirmou Mondragón. No entanto, ele acrescentou que esta é uma situação temporária.

Em entrevista à BNamericas, Mondragón explicou que, atualmente, o principal risco é a incerteza porque seus clientes estão fazendo investimentos multimilionários em ativos fixos de longo prazo.

“Quando há uma incerteza como a que estamos vendo hoje, este é o maior risco, e nós já sentimos isso. É por isso que a desaceleração econômica, a falta de crescimento e a recessão técnica já estão praticamente anunciadas. Esse é o maior risco de incerteza”, disse o CEO.

“O dia 2 de abril é muito importante porque é quando a proposta comercial dos Estados Unidos [tarifas] deve ser solidificada em termos de ação. Temos mais duas semanas de grande incerteza pela frente, esperando para ver o que acontecerá no lado do risco”, mencionou ainda Mondragón.

MINERAÇÃO

A Scania opera no México nas categorias Classe 8 e quinta roda do mercado de caminhões e tratores-reboques, com modelos acima de 15 toneladas de peso bruto do veículo que atendem a setores como mineração.

Mondragón disse que no ano passado o mercado total tinha mais de 36.000 unidades nessa categoria, e mais de 60.000 se forem incluídas aquelas nas classes menores. “E neste ano minha projeção […] é que o mercado será comprimido em 20-25%”.

Do total, a Scania espera manter as vendas anuais em torno de 2.000 unidades, apesar da contração geral projetada.

Mondragón diz ter uma visão “muito clara” de que, em cinco anos, a mineração será uma parte “super importante” dos negócios da Scania no México, porque os caminhões usados na indústria consomem de três a cinco vezes mais peças de reposição e mão de obra, e esse é um negócio importante.

“Sim, a mineração sofreu nos últimos anos, mas é quando mineradores e subcontratados se perguntam: 'O que eu quero comprar agora? O que me dará mais lucratividade?’”, disse ele. “Quando os clientes veem seu custo por unidade transportada em uma situação complexa como a que o país está vivenciando, eles cuidarão de suas carteiras e desejarão escolher a solução mais vantajosa”.

Embora Mondragón tenha dito que as tarifas sobre o setor automotivo que o governo Trump pode impor não afetam diretamente a Scania, por ser uma empresa europeia, elas o fazem indiretamente devido à contração econômica esperada e ao impacto que isso pode ter sobre os clientes.

O executivo mencionou que as tarifas sobre aço e alumínio, em vigor desde 12 de março, podem impactar os fabricantes de carrocerias e, consequentemente, o consumidor final.