Semicondutores no México: ‘o desafio é criar um ecossistema’

O México enfrenta a oportunidade de desenvolver uma indústria de semicondutores, mas para tanto terá de dar um passo crucial.

“O desafio é criar um ecossistema”, disse à BNamericas Alejandro Franco, fundador e CEO da mexicana QSM Semiconductores. “Se criarmos um ecossistema, podemos detonar uma indústria de semicondutores, trazendo fornecedores de matérias-primas e insumos. Já temos os clientes aqui. Precisamos de empresas que projetem, que fabriquem.”

A empresa tem em andamento um investimento de US$ 10 milhões para construir a primeira fábrica de semicondutores do país. Além disso, já possui centros de engenharia e design para fabricar chips legados, projeto no qual investiu US$ 3 milhões.

“O mercado mexicano é muito grande, há muita demanda”, afirmou o executivo.

Embora haja empresas sediadas no país que realizem testes, embalagens e trabalhos de design, os semicondutores acabados ainda são importados.

A troca comercial internacional de diodos, transistores e semicondutores do México totalizou US$ 5,3 bilhões em 2023, segundo a Secretaria da Economia.

Os governos mexicano e norte-americano trabalham para impulsionar a indústria de semicondutores, começando pela formação da mão de obra.

Segundo Franco, a colaboração com os EUA “chega no melhor momento”, uma vez que o efeito do nearshoring – que traz empresas norte-americanas para o México – impulsiona a demanda. “As empresas buscam suprimentos locais, desde algo simples como parafusos até algo complexo, como um chip”, disse o executivo.

Questionado se as empresas americanas poderiam trazer a produção para o México, ele mencionou que era uma possibilidade, mas não imediatamente. “Creio que modelos como o nosso, de tecnologias legacy, têm sido viáveis, mas não vejo uma grande empresa vindo fabricar no país no curto prazo”, afirmou.

A presidente eleita Claudia Sheinbaum incluiu os semicondutores como uma indústria prioritária em seu programa de governo, que propõe que o corredor Baja California, Baja California Sur, Sonora e Sinaloa, no noroeste do México, seja uma área chave para semicondutores, energia renovável, turismo e agricultura.

As oportunidades são significativas, assim como os desafios. “Vejo oportunidades de melhoria em todos os lugares. Se tivermos que enfatizar uma, seria na formação de talentos e na infraestrutura de energia e água, que é uma questão vital para esta indústria”, acrescentou Franco.

O PROJETO MEXICANO

A empresa, que iniciou suas operações há dois anos, é especializada no projeto e fabricação de chips legados. São chips específicos para aplicações que não exigem custos de pesquisa e desenvolvimento.

“É uma forma muito fácil de entrar no mercado, porque exige menos tempo, investimento e recursos”, explicou Franco.

Os setores que utilizam esta tecnologia são o automobilístico, o de bens de consumo, segurança e até mesmo o de saúde.

O plano para a QSM estabelecer uma nova fábrica de semicondutores é lançar a pedra fundamental até o final do ano. O terreno já foi escolhido e será em Querétaro, que se tornou um polo tecnológico com o desembarque de diversos datacenters.

A construção levará aproximadamente um ano e o início da fabricação ocorrerá no final de 2025 ou início de 2026. Estima-se que a fábrica terá uma produção de 10 mil pastilhas de silício por ano.

Atualmente, estão sendo realizados trabalhos nos componentes eletrônicos, mecânicos e de programação nos centros de engenharia e design.