Será que o Rigi poderia alavancar o investimento em tecnologia na Argentina?

O Rigi, regime de promoção de investimentos aprovado na Argentina que oferece benefícios fiscais a projetos de mais de US$ 200 milhões, terá um maior impacto nas áreas de mineração e hidrocarbonetos, mas também poderá ser uma alavanca para a indústria tecnológica.

O Congresso destacou o setor tecnológico como um dos possíveis beneficiários do regime de promoção de grandes investimentos, embora seu alcance real não esteja tão claro. Além disso, será necessária uma análise cuidadosa da regulamentação para compreender seus efeitos.

“Os tipos de projetos de tecnologia que podem ter acesso ao Rigi não são tão óbvios quanto nas áreas de mineração ou hidrocarbonetos”, disse Ignacio Aquino, sócio da PwC Argentina e líder da prática de Deals, em conversa com a BNamericas.

Aquino considera que é importante aguardar a regulamentação, pois ainda falta esclarecer como será interpretado o investimento mínimo de US$ 200 milhões necessário para aderir ao regime. Para o executivo, é preciso explicar se o investimento incluirá capex, obras civis, serviços ou contratação de recursos humanos.

A KPMG aponta que as possibilidades que se abrem para o setor tecnológico com o Rigi estarão relacionadas com a chegada de datacenters, a criação de hubs de conhecimento, projetos de renovação tecnológica e inteligência artificial.

“Dependendo da regulamentação, poderá haver espaço para o desenvolvimento de tecnologia na agricultura, como o desenvolvimento de novos germoplasmas de sementes ou bioplásticos”, destacaram Gonzalo Brest, sócio da área tributária e jurídica da KPMG Argentina, e Franco Basile, sócio responsável pelo setor de tecnologia, mídia e telecomunicações, em uma declaração enviada à BNamericas por e-mail.

O presidente Javier Milei pretende transformar a Argentina em um polo de inovação em inteligência artificial (IA), por isso, em uma de suas visitas aos Estados Unidos, participou de reuniões com grandes empresas de tecnologia.

O ecossistema de IA exige investimento em grandes datacenters, mas também em recursos humanos. “O talento argentino é bastante valorizado pelas empresas de tecnologia no exterior, mas, infelizmente, nos últimos anos, o contexto do país não ajudou a desenvolver plenamente o potencial dos nossos especialistas”, afirmaram os executivos da KPMG.

De acordo com os dados mais recentes da câmara de software Cessi, só o setor local de TI empregou quase 142.000 pessoas em 2023, cerca de 6.300 a mais que no ano anterior.

Embora as exportações argentinas de serviços de informática tenham caído 6,8% no ano passado, como resultado da crise econômica, as exportações de serviços baseados no conhecimento aumentaram 2,9%, para US$ 8,1 bilhões, graças ao aumento de 9,2% dos serviços profissionais prestados no exterior, segundo um relatório da câmara de empresas da economia do conhecimento Argenconomics.

DESAFIOS

O Rigi pode trazer investimentos de grandes empresas de tecnologia, que poderiam voltar a considerar a Argentina como um trampolim para a região, segundo os executivos da KPMG.

No entanto, o desafio continua sendo a macroeconomia. “As variáveis macroeconômicas (inflação, câmbio e, sobretudo, a permanência do ‘cepo’ cambial) são os pontos negativos que as grandes corporações analisam na hora de decidir investir no país. Com certeza os sinais enviados pelo governo serão muito importantes para garantir a estabilidade econômica e, assim, garantir que o Rigi tenha sucesso”, acrescentaram.