Sheinbaum entrega outro projeto ferroviário ao exército mexicano

A presidente Claudia Sheinbaum deu aos militares mexicanos outro projeto de construção, a ferrovia de passageiros Cidade do México-Querétaro, reforçando uma posição criticada por especialistas em infraestrutura.

O projeto foi cancelado pelo ex-presidente Enrique Peña Nieto (2012-18), mas Sheinbaum, durante a campanha, prometeu reativá-lo como parte de seu programa para construir 3.000 km de ferrovias.

A linha de 240 km cruzará a Cidade do México e os estados de México, Hidalgo e Querétaro, e o tempo de viagem será de uma hora e 40 minutos.

“Quando estará pronto? Leva tempo, mas queremos tê-lo pronto em três anos”, declarou Sheinbaum no último final de semana, durante uma cerimônia para dar sinal verde aos estudos de pré-construção, de acordo com a mídia Proceso.

“Os estudos serão realizados a partir de agora e terminarão em abril […] para que a construção comesse no mesmo mês”, disse ela.

Acompanhada pelo secretário da Defesa, Ricardo Trevilla, a presidente disse que a linha será construída pelo Exército – como acontece com outros projetos prioritários – em colaboração com a Secretaria de Infraestrutura, Comunicações e Transportes (SICT).

O uso dos militares tem sido amplamente criticado por especialistas que destacaram a falta de transparência e competência da Secretaria da Marinha (Semar) e do Secretaria da Defesa na construção de projetos de infraestrutura.

“Eles [o Congresso] estão aprovando as reformas que permitem que as Forças Armadas realizem esses tipos de obras”, comentou à BNamericas Sergio Chagoya, especialista em investimento em infraestrutura do escritório de advocacia Santamarina + Steta. “Mesmo que a medida tenha uma base constitucional, há muitas empresas mexicanas e estrangeiras com expertise em infraestrutura e acredito que fariam um trabalho melhor […]. O exército está sendo distraído de seu objetivo principal.”

Logo após assumir o cargo, em 1º de outubro, Sheinbaum deu sinal verde para os estudos de pré-construção da ferrovia entre o aeroporto AIFA e Pachuca, outro projeto que será construído pelo exército.

Também neste mês, o presidente da Câmara Mexicana da Indústria de Construção (CMIC), Luis Méndez Jaled, afirmou durante uma coletiva de imprensa que os militares são uma instituição muito respeitada cujo papel é salvaguardar a soberania do país, não construir projetos de infraestrutura.

“Concordamos que, quando as obras estão relacionadas com a segurança nacional, [a participação militar] é bem-vinda, mas, caso contrário, os construtores deveriam executá-las”, disse ele.

O projeto ferroviário original Cidade do México-Querétaro, elaborado durante o governo de Peña Nieto, era para ser um trem de alta velocidade. O contrato de construção foi concedido em 2014 a um consórcio formado por empresas mexicanas e chinesas, mas o projeto foi cancelado em 2015 devido a alegações de corrupção.

Já o projeto proposto pela administração de Sheinbaum conectará a estação Buenavista, na Cidade do México, com San Juan del Río, na capital do estado de Querétaro. Os trens viajarão a até 160 km/h e terão capacidade para 450 passageiros.

A Secretaria do Desenvolvimento Agrário, Territorial e Urbano (Sedatu) será responsável por obter os direitos de passagem e a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Semarnat) processará os estudos de impacto ambiental.

Segundo o engenheiro militar Gustavo Vallejo, citado pelo jornal El Financiero, o projeto começará a operar em 2029. Espera-se que ele se conecte com linhas para Nuevo Laredo, no estado de Tamaulipas, e Guadalajara, em Jalisco.

Sheinbaum anunciou que seu governo gastará cerca de 150 bilhões de pesos (US$ 7,5 bi) para levar adiante seus projetos ferroviários em 2025, mas nenhum valor específico de investimento foi publicado para o projeto Cidade do México-Querétaro.