A agitação social continuará afetando as operações de mineração peruanas em 2022

As deficiências nas estratégias do Governo do Peru, entre outros fatores, contribuirão para a continuidade dos conflitos sociais no setor de mineração no próximo ano.

Luis Oré, que integrou a equipa de gestão social da Presidência do Conselho de Ministros até ao final de setembro, disse ao BNamericas que a criação de uma equipa técnica e de uma estrutura funcional para lidar com os conflitos foi prejudicada pela actuação do então primeiro-ministro, Guido Bellido .

Depois de gerar grande expectativa na população, “Bellido acreditou que com seus discursos iria consertar os conflitos”, disse Oré.

Acrescentou que o ato recentemente assinado pela atual Primeira-Ministra, Mirtha Vásquez , com representantes da Região de Ayacucho também contribuiu para gerar incertezas.

Vásquez indicou inicialmente que o acordo proibia a exploração e operação, levando ao fechamento imediato das minas Apumayo, Breapampa, Pallancata e Inmaculada , as duas últimas operadas pela subsidiáriaMinera Ares de Hochschild .

Em janeiro-setembro, a Ares produziu 133.625 onças de ouro, um aumento de 41,9% com relação ao ano anterior. A produção de prata atingiu 6,7 milhões de onças, um aumento de 49,6%.

Vásquez acabou recuando e Oré esclareceu que a lei não proíbe a exploração ou operação, mas estabelece a fiscalização e o acompanhamento do processo de fechamento gradativo por meio de uma comissão executiva, ao invés de propor o fechamento imediato.

Oré lembra que os enfrentamentos dentro do governo também não ajudam a desenvolver a estratégia abrangente necessária. Como resultado, a polêmica é gerada com iniciativas como a nacionalização do gás Camisea , as mesas de diálogo com as populações próximas ao ativo Las Bambas no Corredor Mineiro Sul ou o próprio anúncio de Vásquez sobre o fechamento das minas.

Uma maneira melhor de lidar com os conflitos seria avaliar o impacto operacional das minas além de sua área de influência, disse ele.

Carlos Figueroa, ex-assessor do Ministério de Minas e Energia para questões de conflito social, disse ao BNamericas que o cenário atual continuará inevitavelmente em 2022 se uma abordagem holística não for adotada.

Questionou a utilidade de montar mesas de diálogo, pois atrasam a solução dos problemas, uma vez que acordos costumam ser rompidos ou não são devidamente acompanhados.

Figueroa se propõe a elaborar planos de desenvolvimento com contribuições de comunidades, empresas e do Estado.

As áreas urbanas são as que melhor tiram proveito das transferências de mineração devido à sua capacidade de desenvolver projetos de investimento, enquanto as áreas rurais próximas às operações de mineração não têm a capacidade de formular projetos que atendam aos padrões exigidos pelo complexo sistema de investimento nacional. ele indicou.

Ele era a favor da criação de um cânone comunitário e destacou que as políticas de responsabilidade social corporativa não deveriam se limitar apenas a apoiar projetos em comunidades vizinhas.

Como exemplo, citou a Antamina , que resolveu um protesto social ao incluir a comunidade Aquia, localizada a 60km da jazida, em sua zona de operação.

Figueroa também destacou que os estudos de impacto ambiental já devem especificar em que medida os projetos de mineração irão beneficiar seu ambiente operacional.

O último relatório de conflito da Ouvidoria registra 198 conflitos em outubro, dos quais 129 correspondem à esfera socioambiental. Oito novos casos foram registrados, incluindo o de Antamina, enquanto um, o do campo Constancia operado por Hudbay , foi resolvido.