A infraestrutura de saúde da América Latina se mostrou defasada durante a Covid-19

A resposta da América Latina à pandemia de Covid-19 não abordou adequadamente as deficiências de infraestrutura de saúde e seguros. Como resultado, a região está mal preparada para novas variantes, argumentam especialistas.

“Ainda há uma enorme lacuna que precisa ser preenchida”, disse Antonio Vergara, presidente e chefe de diagnósticos da Roche Latin America, à BNamericas, acrescentando que a falta de infraestrutura não envolve apenas hospitais, mas também serviços de telecomunicações para telemedicina.

Embora Vergara tenha reconhecido que a pandemia impulsionou os investimentos, ele afirmou que a eficiência continua sendo um grande desafio que deve ser enfrentado tanto pelos governos quanto pelo setor privado.

“Não recebi uma única ligação [dos formuladores de políticas] sobre como podemos preparar a infraestrutura para a próxima pandemia ou outras emergências desconhecidas”, disse ele, acrescentando que a Covid-19 mostrou a importância de investir com antecedência.

“Não estávamos prontos para [a pandemia da Covid-19]. Ficou evidente que não ter a tecnologia e a infraestrutura prontas para uso foi muito relevante”, disse Vergara, que fez uma apresentação em um webinar sobre investimentos em saúde realizado pelo Diálogo Interamericano.

Enquanto alguns países gastaram até 8% do PIB em suas respostas à pandemia, o valor alocado à saúde foi de 1% disso, em alguns casos.

“Esta é uma oportunidade perdida”, disse Javier Guzmán, membro sênior de políticas do Centro para o Desenvolvimento Global, durante o mesmo evento, acrescentando que, apesar do maior investimento, a saúde não era uma prioridade para os governos.

“A saúde ainda é vista como algo que se soma a um conjunto maior de investimentos mais importantes”, afirmou, ao mesmo tempo em que aponta os riscos relacionados à falta de seguros.

Guzmán disse que os gastos dos governos com saúde enquanto proporção do gasto total em 12 países da América Latina, incluindo México, Bolívia, Equador e Costa Rica, não devem retornar aos níveis pré-pandemia até 2026.

Ambos os oradores disseram que o investimento privado pode ajudar a aliviar o déficit, mas o estado deve garantir que exista uma rede de seguros para evitar que os usuários empobreçam por conta de despesas de saúde.

Vergara destacou o papel das seguradoras na promoção de cuidados preventivos e apontou que a telemedicina pode fazer a diferença nos custos para os pacientes.

“Precisamos investir em infraestrutura digital, que possibilite a adoção da saúde pessoal. Isso ajudará as seguradoras a ter melhores resultados para os pacientes, além de melhorar nossa compreensão dos comportamentos dos usuários”, disse ele.