Além da geração e injeção: Chile deve aproveitar melhor os recursos solares

Os amplos recursos de energia solar do Chile podem desempenhar um papel muito maior na transição energética do que simplesmente gerar e injetar eletricidade em grande escala, afirmou um especialista do setor.

A energia solar representa apenas 2,18% da matriz energética nacional, que continua dominada pelos combustíveis fósseis, majoritariamente importados e consumidos em grande parte pelo setor de transportes.

A participação da energia solar na matriz “não é muito ambiciosa”, avaliou Darío Morales, diretor executivo da associação local de energia solar Acesol.

No entanto, em termos da matriz de produção de eletricidade, a energia solar fotovoltaica representou cerca de 17% no mês passado e a capacidade instalada está crescendo.

O Chile tem o objetivo de zerar as emissões líquidas até 2050, o que exigirá a eletrificação de áreas da economia para complementar o processo em curso de desativação da frota de 5,5 GW de centrais elétricas a carvão do país.

“Precisamos promover a eletrificação o mais rápido possível”, disse Morales durante um seminário organizado pelo centro de pesquisa de energia solar SERC do Chile, patrocinado pela Acesol e pela associação nacional de armazenamento de energia e energias renováveis Acera.

Ao lado da eletrificação dos transportes, a adoção de medidas mais ecológicas nos segmentos residencial e industrial – em especial com sistemas de aquecimento e refrigeração alimentados por energia solar – é considerada vital.

É necessário que haja estudos em nível nacional para estabelecer o nível ideal de implementação da geração distribuída, enquanto os incentivos ajudariam a estimular a implementação, segundo participantes do evento.

Foi realizado um estudo sobre a quantidade de capacidade de geração distribuída que poderia ser adicionada à rede de distribuição sem a necessidade de investimento em infraestrutura associada.

O parque solar do Chile é dominado por instalações de PMGD de pequena e grande escala (até 9 MW). Do total da capacidade solar instalada no Chile, 95% é superior a 1 MW, em comparação com a média global de 52% e os 36% observados na Austrália.

Judith Vidal, pesquisadora do Laboratório Nacional de Energia Renovável dos EUA, citou o potencial dos sistemas de armazenamento de energia residenciais e industriais para apoiar a flexibilidade do lado da demanda. As melhores soluções combinam bateria e sistemas térmicos, destacou Vidal no evento, acrescentando que o investimento em tecnologias emergentes é fundamental.

Cerca de 70% da capacidade solar instalada do Chile pode ser encontrada entre as regiões de Arica e Parinacota e Atacama – longe do principal centro de demanda do país, em torno da capital Santiago. Em nível nacional, espera-se que a capacidade solar aumente para cerca de 13 GW nos próximos anos, acima dos 8,2 GW atuais. Mais de 38 GW possuem licença ambiental.

Em termos do potencial global para energia renovável, o Chile detém cerca de 2,35 TW. A capacidade total instalada no país é de aproximadamente 33 GW.

CUSTOS MARGINAIS E CORTES DE PRODUÇÃO

Este ano trouxe resultados conflitantes para os geradores de energia renovável não convencional (ERNC) de produção variável no Chile.

A melhoria das condições hidrológicas, combinada com uma redução na produção termelétrica, apoiou uma tendência de convergência nos custos marginais, o que aliviou as tensões de dissociação dos preços.

No entanto, a redução de produção ou dumping de energia aumentou, e o congestionamento da transmissão seria apenas um fator parcial, conforme relatou Ernesto Huber, diretor executivo do coordenador da rede do Chile CEN, no evento.

De janeiro a setembro, o corte foi de 1.454 GWh (410 GWh de energia eólica e 1.044 GWh de solar), quase chegando aos 1.471 GWh reportados em todo o ano de 2022.

Durante as horas com incidência solar, o Chile tende a ver um excesso de produção de energia na região norte, eletricidade que poderia ser armazenada e injetada de volta na rede após o pôr do sol.

“Vemos claramente uma oportunidade para o armazenamento”, disse Huber em uma apresentação, acrescentando que “o maior desafio é aproveitar a produção variável de eletricidade para iluminar o país à noite”.

Segundo dados da Acera, 13,2 GW de energia limpa e capacidade de armazenamento estavam em fase de avaliação ambiental em setembro. As usinas de ERNC foram responsáveis por 7,18 GW, os sistemas de armazenamento autônomos por 617 MW e ativos híbridos de ERNC e armazenamento por 5,36 GW.

Os sistemas de armazenamento já estão em operação e em construção. Os investidores aguardam novas regulamentações já em preparação para sistemas autônomos, em especial no que diz respeito à remuneração. A garantia de fluxos de receitas estáveis facilitaria o acesso a financiamento, o que, por sua vez, deve ajudar players menores a entrarem na arena.

O governo está planejando realizar um leilão de armazenamento de energia. Um projeto de lei de transição energética que abriria as portas para o processo está em discussão no Congresso.