AMLO pode estar mal-informado sobre a situação da siderúrgica Ahmsa

A siderúrgica Altos Hornos de México (Ahmsa) alertou que o presidente Andrés Manuel López Obrador pode estar mal-informado sobre a situação da empresa, apesar desta lhe ter enviado comunicados para mantê-lo atualizado.

A empresa fez o comentário depois que AMLO disse, na segunda-feira (28), que seu governo não foi capaz de ajudar a resgatar a siderúrgica porque o empresário Alonso Ancira continuaria a liderar a empresa. O governo tinha dito anteriormente que iria procurar atrair investidores para ajudar a Ahmsa a saldar as suas dívidas com organismos estatais se a Ancira vendesse as suas ações.

“Estamos procurando uma forma de resgatar Altos Hornos, mas o senhor [Ancira] não cede. Ele gostaria, penso eu, que lhe fosse permitido continuar a ser preponderante e isso não é possível porque não há ninguém que queira associar-se quando se demonstrou que a gestão administrativa na empresa não era boa”, disse AMLO em conferência, na segunda-feira.

“Pensando cuidadosamente sobre o que foi expresso hoje (segunda-feira) pelo presidente, deve-se notar que ele pode estar mal-informado, que desconhece a carta detalhada que lhe foi enviada em 1º de agosto”, disse Ahmsa em posicionamento enviado para BNamericas.

“Ou as intenções são diferentes das expressas (pelo presidente), uma vez que foram fornecidas todas as informações necessárias para viabilizar o apoio federal aos novos investidores envolvidos na reativação dos Altos Hornos de México”, acrescentou a empresa por meio de seu porta-voz, Francisco Orduña.

Orduña explicou que, em resposta a uma carta datada de 26 de julho, assinada por Félix Medina Padilla, promotor federal e encarregado do secretário do Tesouro (Rogelio Ramírez de la O) para tratar da questão Ahmsa, a siderúrgica enviou em primeiro de agosto a López Obrador uma carta explicando os acordos firmados pela Argentem Creek Partners, bem como as condições de pagamento da dívida com entes públicos.

O porta-voz acrescentou que o texto da carta preconizava que o interesse das partes deveria ser o estabelecido em caso de falência comercial, para conseguir a recuperação da empresa, o que seria assegurado através do acordo com os investidores liderados por Argentem.

Além disso, o governo foi informado “que nem Alonso Ancira, nem seus familiares terão qualquer participação no futuro da empresa, em virtude da cessão de ações e das renúncias aprovadas em assembleia”.

López Obrador destacou que, em sua opinião, Ancira estaria aguardando o término de seu mandato de governo para que sua dívida fosse perdoada.

“Ele [Ancira] deve entender que o ciclo dele acabou e assim ajudamos a reestruturar a dívida devida ao erário público. Não podemos perdoar a dívida”, declarou AMLO.

A siderúrgica com sede em Coahuila, uma das maiores do México, tem sofrido com problemas financeiros e trabalhistas, desde 2022, que a forçaram a interromper gradualmente a produção desde novembro passado.

Em abril, a empresa controlada pelo Grupo Acerero del Norte (GAN) — em processo de recuperação judicial desde janeiro — concordou em ser absorvida pela Argentem Creek Partners.

Mas mesmo os novos proprietários não conseguiram fazer a injeção de capital acordada ou assumir o controle porque aguardam que o governo aprove o plano de reestruturação financeira, segundo a Ahmsa.

FUNDOS CONGELADOS

Conforme a posição da Ahmsa, no comunicado enviado ao presidente, menciona-se ainda que “a não divulgação de contas por parte da Unidade de Inteligência Financeira constitui um impedimento para os investidores movimentarem os fundos necessários ao reinício das operações da empresa” e para que esta possa cumprir as suas obrigações.

Orduña reiterou que, conforme assinalado anteriormente, já foram creditados 150 milhões de dólares aportados pelo fundo de investimento da tribo Kakapú e existe a mesma disposição de outros interessados.

Além de solicitar acordo sobre condições de pagamento de dívidas com entes públicos, a Ahmsa também solicitou, na carta enviada em 1º de agosto, o adiamento do último item previsto em acordo prévio de reparação com a petroleira Pemex visando “não afetar de modo significativo os fluxos iniciais para a reativação das operações da Ahmsa”.

Segundo Orduña, na carta, o presidente foi informado de que os representantes da Argentem, bem como da Cargill e da Afirme — os principais credores—, esperam “se reunir com os funcionários do Governo Federal que o senhor designar para confirmar seu apoio à referida reestruturação e ter sua supervisão na implementação da mesma”.

A empresa garantiu que, se não contar com o apoio ativo da autoridade fiscal SAT, das estatais Pemex e CFE, e de outras entidades governamentais, “não será possível concluir com sucesso a reestruturação financeira da Ahmsa”.