Analistas preveem inflação e juros mais altos no Brasil

Analistas brasileiros aumentaram suas previsões para a taxa básica de juros (Selic) e a inflação no final de 2024, entre sinais de um menor controle governamental das finanças públicas sob o comando do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A Selic deve terminar o ano em 9,50%, antes de ser reduzida para 9,0% até o final de 2025, em comparação com as projeções anteriores de 9,13% e 8,50%, respectivamente, segundo estimativas médias dos economistas participantes do levantamento semanal do Banco Central.

Enquanto isso, a inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deve fechar este ano em 3,73% e chegar a 3,60% em 2025 e 2026, de 3,71% e 3,56% previstos anteriormente.

Os aumentos nas estimativas da taxa de juros e da inflação ocorrem em um momento em que o governo dá sinais de que pretende aumentar os gastos e reservar menos dinheiro para saldar a dívida pública, o que provavelmente gerará pressões inflacionárias no médio prazo.

Em um encontro entre Lula e jornalistas, o presidente criticou a visão dos economistas que defendem a rigidez fiscal, argumentando que os gastos do governo em educação, saúde e programas sociais não deveriam ser considerados despesas, mas sim um investimento.

O sentimento dos analistas do mercado em relação às finanças públicas vem se deteriorando desde a semana passada, quando a administração reduziu as estimativas para o superávit fiscal nos próximos anos.

O superávit primário, ou a diferença entre as receitas fiscais e as despesas do governo federal, excluindo o pagamento de juros, agora deve ser zero em 2025, em comparação com a projeção anterior de 0,5% do PIB. Para 2026, o superávit projetado foi reduzido de 1,0% para 0,25% do PIB, informou o governo no projeto de lei de diretrizes orçamentárias para 2025 enviado ao Congresso.

Desde o anúncio da redução das estimativas do superávit fiscal, houve aumento no mercado futuro de taxas de juros, o que dificulta as condições de crédito no país.

O Banco Central iniciou o atual ciclo de flexibilização monetária em agosto de 2023, reduzindo gradativamente a Selic de 13,75% para o patamar atual de 10,75%.

Porém, com o aumento dos juros futuros, os bancos tenderão a ser mais rígidos nas condições de concessão de crédito e não repassarão as reduções da Selic, temendo juros mais elevados no médio e longo prazo.

“Atualmente, olhando para os elementos do mercado interno e também do cenário internacional, vejo que há riscos de revisões para cima ainda maiores da taxa Selic para o final deste ano e o final de 2025”, apontou Mário Sérgio Lima, analista da Medley Global Advisors, em bate-papo com a BNamericas.

“O gatilho para novas revisões para cima da Selic pelos analistas será se os próximos indicadores de inflação ficarem acima das projeções”, disse Lima, que vê espaço para que a taxa básica termine este ano no patamar de 9,75% ou 10%.

Apesar do leve aumento do pessimismo, os analistas consultados pelo Banco Central para o Boletim Focus aumentaram a perspectiva de crescimento médio do PIB deste ano para 2,02%, de 1,95% da estimativa anterior, mas mantiveram a previsão de 2,0% para 2025.