As principais mudanças que o novo presidente da Colômbia introduzirá

Gustavo Petro se tornará o primeiro presidente de esquerda da Colômbia, depois de vencer o segundo turno de domingo contra o rival populista Rodolfo Hernández.

A BNamericas analisa seis temas-chave de sua agenda e seus prováveis impactos no clima de investimento do país.

Reforma tributária

Entre os maiores desafios enfrentados por Petro estará a necessidade de financiar suas promessas eleitorais sem causar mais danos à já frágil situação fiscal do país.

A agenda de Petro prevê gastos de 19,5 trilhões de pesos (US$ 5 bilhões) em programas sociais, incluindo educação gratuita e saúde universal, e uma promessa de tirar milhões da pobreza. Petro prometeu arrecadar 50 trilhões de pesos com a reforma e disse que metade da receita será destinada à redução do déficit fiscal, que equivaleu a 7,1% do PIB no ano passado.

Ambiente de negócios

Embora Petro tenha criticado repetidamente as corporações, ele foi menos antagônico nesta campanha do que nas que lançou em 2014 e 2018.

Essa moderação levou os investidores a supor que Petro poderia adotar uma abordagem mais pragmática do que muitos esperavam.

Em abril, Petro assinou um documento em cartório afirmando que não desapropriaria propriedade privada caso se tornasse presidente.

E na semana passada, ele garantiu aos investidores privados que eles continuariam sendo bem-vindos na Colômbia. “Pode-se ter certeza de que todo investimento privado com responsabilidade social e ambiental será apoiado e garantido pelo meu governo. A liberdade é essencial para a democracia”, escreveu no Twitter.

Transição de energia

O manifesto de campanha de Petro incluiu uma promessa de abortar os planos para rodadas de licenciamento de E&P e suspender os pilotos de fracking e perfuração offshore – parte de planos mais amplos para afastar o país dos combustíveis fósseis. Enquanto isso, ele prometeu acelerar a transição para fontes de energia limpa, como energia eólica e solar.

A chave para o lançamento de energia renovável será o departamento de La Guajira, onde Petro propôs uma cooperação mais estreita com grupos indígenas para encontrar um consenso para grandes projetos que tragam benefícios mútuos para comunidades e investidores.

A empresa estatal de petróleo, Ecopetrol, que responde por mais de 60% da produção de petróleo e gás da Colômbia, deve desempenhar um papel fundamental na mudança para energia de baixo carbono.

“[Ecopetrol] vai... garantir os combustíveis de que o país precisa pelos próximos 15 anos enquanto faz contribuições para matérias-primas e derivados para petroquímicos”, segundo o site da campanha do Petro.

Relacionamento dos EUA

Embora a Colômbia tenha sido tradicionalmente próxima dos EUA, Petro pode mudar de rumo.

“Acho que chegou a hora de sentar com o governo dos EUA e conversar”, disse ele, em discurso na noite de domingo.

Petro expressou o desejo de renegociar os acordos comerciais da Colômbia com os EUA enquanto busca negociações destinadas a proteger a Amazônia e acabar com a guerra às drogas.

Observadores políticos alertaram que tal postura pode acarretar um custo econômico significativo, uma vez que a Colômbia tem sido um dos maiores receptores de ajuda externa dos EUA nas últimas décadas.

Petro questionou a eficácia dos esforços apoiados pelos EUA para erradicar a plantação de coca – o principal ingrediente usado para a produção de cocaína –, e disse que se concentrará na reforma agrária e em políticas que promovam o desenvolvimento rural.

Venezuela

Embora tenha descrito o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, como ditatorial, Petro quer restabelecer as relações diplomáticas.

Nas redes sociais, Maduro escreveu “novos tempos estão à frente para este país irmão”, depois que a vitória de Petro ficou clara.

Petro, enquanto isso, pediu “diálogo nas Américas, sem exclusões”, uma aparente resposta à decisão de Washington de excluir Venezuela, Cuba e Nicarágua da Cúpula das Américas deste mês, em Los Angeles.

Observadores políticos disseram que a medida pode enfraquecer os esforços dos EUA para isolar Maduro, a quem a Casa Branca acusou de liderar um regime de esquerda corrupto e repressivo.

Acordo de paz

Em seu discurso de vitória, Petro prometeu restaurar a paz enquanto o país continua cheio de violência.

Para isso, ele prometeu implementar integralmente os acordos de paz de 2016 entre as Farc e o governo que encerrou oficialmente o conflito armado mais longo da América Latina.

Petro deve priorizar a reforma rural, que, segundo ele, oferecerá uma nova esperança para ex-combatentes e comunidades afetadas pela violência.

“Vamos cumprir todos os compromissos do acordo sem exceção”, disse Petro.