
Banco Central reduz Selic e sinaliza flexibilização mais lenta

O Banco Central sinalizou que o ritmo de corte das taxas de juros será menos agressivo nos próximos meses.
Nessa quarta-feira (20), o banco reduziu a taxa básica Selic em 0,50 ponto percentual, para 10,75%, um movimento amplamente esperado pelos analistas.
“A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária”, afirmou o Comitê de Política Monetária (Copom) em um comunicado.
Alguns analistas interpretaram a mensagem do Copom como um sinal de que o ritmo dos próximos cortes nas taxas será mais gradual.
"A principal e mais significativa inovação foi a orientação futura: a orientação condicional de que um corte de taxa semelhante é agora válida apenas para a próxima reunião [do Copom], e não para as próximas reuniões, dada a maior incerteza e a necessidade de mais flexibilidade no gestão da política monetária", disse Alberto Ramos, diretor de Pesquisas Macroeconômicas do Goldman Sachs, em um relatório de pesquisa.
Ramos prevê que a Selic seja cortada em 0,50 ponto percentual na próxima reunião de maio. Depois disso, o Copom deve fazer mais um corte cauteloso de 0,25 ponto percentual na reunião seguinte, em junho.
Desde que o Banco Central iniciou o atual ciclo de flexibilização monetária em agosto de 2023, quando a Selic estava em 13,75%, ela foi cortada em 0,50 ponto percentual nas últimas seis reuniões do Copom, devido à inflação mais baixa. Contudo, a desaceleração da inflação parece ter perdido o impulso.
A taxa de inflação estava em 4,50% em fevereiro, apenas ligeiramente abaixo dos 4,51% registrados em janeiro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A inflação permanece, portanto, no limite superior do intervalo de tolerância do banco, de 1,50-4,50%.
As condições do mercado internacional também influenciam as futuras decisões sobre as taxas.
No início desta semana, o Banco Central do Japão (BoJ) aumentou a sua taxa de juro de referência pela primeira vez em 17 anos, encerrando uma era política de taxas negativas. A semana também viu o Fed dos EUA manter as taxas de juros inalteradas na faixa entre 5,25 e 5,50%.
“As taxas de juros no mundo tendem a permanecer em patamares mais elevados do que nos anos anteriores à pandemia da Covid-19, onde muitos países tinham taxas de juros ainda mais baixas que a taxa de inflação, a chamada taxa negativa. A espaço para o Banco Central do Brasil reduzir sua taxa de juros torna-se mais limitado a partir de agora”, pontuou Roberto Guimarães, diretor de Planejamento e Economia da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) e ex-secretário do Tesouro Nacional do Brasil.
Apesar do cenário global, alguns líderes industriais querem uma redução significativa da Selic.
“Será importante avançarmos em direção a mais redução nas taxas de juros para aumentar o nível de investimento na economia. Nossa previsão é que a taxa Selic chegue a 9% ao ano no final deste ano, o que se considerarmos a inflação anual de 4,5% ainda é um nível elevado de taxa de juros real”, avaliou à BNamericas José Velloso, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos Abimaq.
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