Brasil deverá ter retorno à Selic com dois dígitos

O Brasil provavelmente voltará a uma taxa Selic de dois dígitos nesta semana, após quase cinco anos em dígitos únicos. Se prolongado, o alto percentual poderá ter impactos significativos em projetos de infraestrutura.

“A maioria dos instrumentos de financiamento utilizados para financiar os projetos de infraestrutura está atrelada à variação da taxa Selic. Se a taxa de juros permanecer muito alta por um longo período, as empresas sofrerão um grande impacto em seus custos financeiros”, disse à BNamericas Daniel Keller de Almeida, sócio-diretor da empresa de consultoria de infraestrutura Una Partners.

A maioria dos analistas espera que o Banco Central (BC) eleve a Selic para 10,75% – contra os atuais 9,25% – em 2 de fevereiro, com vistas a conter a pressão inflacionária, enquanto outro aumento da taxa está previsto para a reunião de março do comitê do BC.

Projetamos que a reunião de março trará uma alta final de 1,00 p.p. [ponto percentual], elevando a taxa Selic no patamar de 11,75% a.a. [ao ano]”, escreveu a equipe de economistas do Itaú Unibanco em um relatório de pesquisa.

“Ao nosso ver, a decisão de encerrar o ciclo de aperto será motivada pelo recuo das expectativas de inflação para 2023, desaceleração da atividade econômica e reconhecimento dos efeitos defasados da política monetária. No entanto, as condições correntes e projeções de inflação podem pressionar na direção de manutenção do ritmo de 1,50 p.p. em março e/ou sinalização de continuidade do ciclo”, disseram.

Em julho de 2017, o BC reduziu a Selic para um dígito e a manteve em torno desses níveis até agora. Em meados de 2020, a autoridade monetária, inclusive, reduziu a taxa básica para 2%, o nível mais baixo de todos os tempos, para mitigar os efeitos econômicos da pandemia de Covid-19.

No entanto, a inflação acelerou rapidamente em 2021, atingindo 10% ao ano e forçando o BC a reverter sua estratégia, adotando uma postura mais hawkish.

Agora, mesmo com uma esperada desaceleração da inflação nos próximos meses, o espaço para o BC reduzir a taxa de referência foi drasticamente limitado, pois o Federal Reserve dos EUA já indicou que provavelmente aumentará as taxas de juros.

Países em desenvolvimento como o Brasil tendem a manter suas taxas de juros significativamente mais altas do que as do Fed, em uma tentativa de atrair investidores para seus títulos e financiar suas dívidas.