Chile pode evitar o racionamento de água?

Embora o consumo humano não esteja em risco por enquanto, o racionamento de água pode estar no horizonte para alguns setores no Chile, se a gestão não melhorar.

“Com altos níveis de estresse hídrico, algumas atividades produtivas podem ser afetadas”, disse Julio Burgos, membro do Comitê de Infraestrutura Pública da Escola de Engenheiros do Chile, em resposta a uma pergunta da BNamericas, em um webinar sobre recursos hídricos.

O estresse hídrico – quando a demanda excede os recursos disponíveis durante um determinado período – é muito alto em Santiago e no norte do país, enquanto as regiões do sul não estão sob pressão.

Nesse contexto, a agricultura, que concentra 72% do uso de água do Chile, pode estar enfrentando restrições nas regiões de Coquimbo, Valparaíso, Metropolitan, Maule e Ñuble, que registram níveis de estresse de alto a moderado e o maior uso de água na agricultura.

O setor mineiro, entretanto, poderá sofrer cortes na região de Antofagasta, embora Burgos tenha destacado que a indústria tem feito esforços substanciais para reduzir o consumo.

Apenas 12% do uso da água é para consumo humano, razão pela qual o risco de racionamento é muito baixo atualmente, disse Burgos. Mas a gestão ainda precisa ser revisada para evitar o racionamento, acrescentou.

No início deste ano, o governo disse que o leste de Santiago pode enfrentar cortes no próximo verão, a partir de novembro, à medida que obtém água do rio Mapocho, que registra níveis recordes de água.

Burgos sugeriu que a água deveria ser gerida por meio de bacias especiais em vez de nacionalmente ou por regiões.

Ele disse que o Chile é o único país da OCDE sem instituições baseadas em bacias e sugeriu um novo tipo de agência composta por uma secretaria técnica e um comitê público-privado, que seria designado para uma bacia específica.

“Se pudéssemos administrar esse problema pelas bacias, obviamente o consumo humano não seria afetado”, disse ele, acrescentando que o Chile claramente não está nesse caminho.

Burgos admitiu que o atual sistema de direitos sobre a água, que concede direitos de propriedade privada mesmo para fontes secas, é falho, e que as mudanças na nova Constituição proposta parecem razoáveis.

“Ter direitos sobre uma bacia sem água é como ter ações de uma empresa falida”, disse ele, acrescentando que a Constituição proposta também inclui conselhos de bacia.

Outras recomendações para a gestão da água incluem tornar todos os futuros reservatórios multifuncionais, melhorar a coleta de dados sobre os níveis de água, neve e geleiras e melhorar a eficiência em setores como a agricultura.