Chilena Enami demanda apoio estatal para superar crise financeira

A mineradora estatal chilena Enami necessita de US$ 25 milhões anuais para continuar sua operação e estabilizar sua complexa situação financeira, disse Iván Mlynarz, vice-presidente da empresa, a uma comissão do Senado chileno.

A dívida da Enami passará de US$ 596 milhões para US$ 784 milhões este ano e aumentará para US$ 1,2 bilhão até ao final da década, considerando o aumento dos juros.

Suas obrigações ultrapassaram a barreira dos US$ 400 milhões em 2021, o que tem causado problemas com bancos. A empresa financiava suas operações por meio de empréstimos, mas “no ano passado o crédito foi negado”, explicou Mlynarz.

A fundição Hernán Videla Lira (HVL) é o principal problema, porque gera um escoamento diário de 200 milhões de pesos (US$ 210 mil), “aproximadamente 75% do prejuízo da Enami em 2023”, revelou aos parlamentares Aurora Williams, ministra de Minas.

Localizada na cidade de Paipote, na região do Atacama, a HVL está paralisada desde fevereiro. “Se continuássemos a operar haveria perdas de US$ 278 milhões neste ano e, se pararmos, serão de US$ 184 milhões”, explicou Mlynarz, que alerta que a redução também não é a solução para os problemas da empresa.

Apenas neste ano a Enami terá de pagar cerca de US$ 65 milhões em juros e o encerramento da HVL – decisão que também foi adotada por descumprimento de normas ambientais – afeta a pequena e média exploração minerária.

A Enami compra minerais de pequenas e médias empresas para processamento e comercialização, o que torna essencial a modernização da HVL. Porém, esses planos envolvem um investimento de US$ 1,4 bilhão, dos quais a empresa não dispõe.

A situação da Enami foi abordada por associações mineiras, parlamentares e autoridades governamentais. Esta semana, o presidente Gabriel Boric prometeu perante a comissão capitalizar a Enami e iniciar as operações na fundição antes do término do seu mandato, em março de 2026, para o qual apresentará em breve uma proposta de financiamento.

Por sua vez, a Enami está desenvolvendo um plano para garantir a sua continuidade, estabilidade e otimização operacional, cujas diretrizes serão apresentadas em agosto. Enquanto isso, os ministérios de Minas e Fazenda trabalham na definição de instrumentos para capitalizar a empresa.

QUEBRADA BLANCA

Uma possível fonte de receita é a participação de 10% da Enami na operação de cobre Quebrada Blanca (QB), na qual a canadense Teck Resources controla 60% e a japonesa Sumitomo 30%. Teck e Sumitomo investirão US$ 8,8 bilhões na expansão de QB2 para expandir a produção.

A participação nos lucros projetados da Enami seriam de US$ 26 milhões em 2029 e US$ 23 milhões em 2030, segundo Mlynarz. Por outro lado, Williams alertou que “os dividendos futuros estarão sempre condicionados à decisão dos acionistas”.

A mídia tem noticiado relatos de uma possível compra da participação da Enami em QB pela estatal de cobre Codelco, medida rejeitada pela Sociedade Nacional de Mineração do Chile (Sonami). Em carta ao Presidente Boric, garantiram que não permitirão que a “Enami continue sendo desmantelada, porque isto desmantela a mineração”.

A Sonami alertou que a venda deixaria a empresa sem o seu ativo mais valioso e sem fonte de geração de receitas futuras, fora da exploração.

Contudo, para Mlynarz, a venda do ativo é uma das opções para conter a dívida.

A Enami oferece atualmente para venda ou arrendamento a mina de cobre Esperanza.