Com acúmulo de demissões, construtoras argentinas enfrentam incerteza

As empresas de construção na Argentina passam por tempos de incerteza após a decisão do presidente Javier Milei de interromper o financiamento público para a maioria dos projetos de infraestrutura, com relatos de demissões em massa.

“Embora um diálogo com o governo tenha começado e tenha havido uma reunião com o ministro [da economia, Luis] Caputo há alguns dias, ainda há incerteza em torno disso”, disse à BNamericas sob condição de anonimato uma fonte da Câmara Argentina de Construção (Camarco).

O governo desmantelou o Ministério da Infraestrutura esta semana e suas funções foram transferidas para o gabinete de Caputo.

A Camarco declarou estado de emergência nacional para o setor de construção no início deste mês, após a repressão de Milei às obras públicas, o que piorou um cenário já terrível para as empreiteiras, que enfrentam alta inflação e problemas de financiamento.

Gustavo Weiss, presidente da entidade, disse ao El Diario AR que se estima que 100 mil empregos tenham sido perdidos desde novembro, principalmente devido à suspensão de cerca de 3,5 mil contratos de obras públicas.

Quando a Camarco emitiu a sua declaração de emergência, alertou que até 200 mil empregos estavam em risco.

A mesma fonte da câmara explicou à BNamericas que o número inclui tanto demissões quanto suspensões em projetos que estão paralisados ou em construção, mas em um ritmo muito mais lento.

Os projetos do setor privado também são afetados, embora em menor grau.

As autoridades provinciais também manifestam preocupação, uma vez que seu financiamento foi afetado pela austeridade fiscal de Milei, atingindo a sua capacidade de financiar projetos de infraestrutura.

Na terça-feira (27), um juiz federal decidiu a favor da província de Chubut sobre os fundos retidos por Milei. Contudo, as autoridades federais anunciaram que recorrerão à Corte Suprema, informou o meio de comunicação C5N, citando fontes governamentais.

A atividade de construção na Argentina diminuiu 12,2% em termos anuais em dezembro, quando Milei assumiu o cargo, enquanto mais de dois terços das empresas focadas em projetos de obras públicas acreditam que a atividade cairá durante o primeiro trimestre de 2024, de acordo com o instituto de estatísticas Indec.

A inflação no setor abrandou durante o mês de janeiro, mas ainda ultrapassa os 200% anualmente na Grande Buenos Aires e na província de Córdoba.