Destaque: uma pedra no caminho dos produtores de cimento brasileiros

O volume de vendas de cimento no Brasil caiu nos dois primeiros meses de 2022, diminuindo ainda mais as expectativas no que já se espera ser um ano difícil para a indústria da construção.

As vendas domésticas de cimento caíram para 9,27 Mt em janeiro-fevereiro, uma queda de 4% em relação ao mesmo período de 2021, segundo o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC).

“Se ao menos tivermos um desempenho neutro este ano, sem crescimento em relação ao ano passado, vou comemorar, mas mesmo ainda no início do ano, o cenário aponta para uma possível queda nas vendas este ano”, disse o presidente do SNIC, Paulo Camillo Penna (foto), à BNamericas.

As vendas de cimento no Brasil subiram 6,6% para 64,7 Mt no ano passado, embora contra uma baixa base de comparação em 2020, atingido pela pandemia.

Segundo Penna, a combinação de altas taxas de juros e pressões inflacionárias está minando a confiança dos brasileiros.

As vendas de cimento estão intimamente ligadas ao setor imobiliário, que responde por cerca de 70% das vendas totais, enquanto os projetos de infraestrutura são responsáveis por aproximadamente 10% das vendas.

“Os diversos projetos de concessão na área de infraestrutura e saneamento no Brasil nos últimos anos provavelmente gerarão um aumento na demanda de cimento nesses setores. Geralmente, temos uma defasagem de cerca de quatro anos entre o leilão de um contrato de concessão até que ele se concretize em vendas de cimento”, disse Penna, que acrescentou que os contratos de concessão de projetos de saneamento já assinados devem gerar vendas de cimento da ordem de R$ 50 bilhões nos próximos anos.

Enquanto isso, as empresas do setor de cimento enfrentam pressões de custos.

“A forte pressão sobre os preços das commodities está afetando o mundo. A situação é agravada pela guerra da Rússia contra a Ucrânia, que inevitavelmente afetará os preços do petróleo, gás, carvão e coque no mercado global”, disse Penna.

Prevê-se que os custos das matérias-primas para os produtores de cimento continuem elevados, especialmente os ligados à energia térmica, em particular o coque de petróleo.