El Niño pode sufocar a recuperação do crescimento do Peru em 2023-2024
O Peru volta a receber previsões de crescimento abaixo do esperado, tanto para este ano como para o próximo, devido a fenômenos climáticos.
Embora o país tenha superado o pior da crise política após o afastamento do ex-presidente Pedro Castillo e sua substituição por Dina Boluarte, e tenha conseguido desbloquear vários projetos e tenha reativado a atividade econômica, o progresso pode ser interrompido pelo início de um novo fenômeno global do El Niño.
O El Niño causa múltiplos efeitos no Peru que geralmente se traduzem em chuvas intensas e, às vezes, chuvas catastróficas e inundações no norte, enquanto a seca ocorre no Planalto Central. A situação prejudicará a atividade econômica, enquanto a infraestrutura provavelmente será danificada, com consequentes perdas econômicas.
O país já enfrenta as consequências de eventos climáticos incomuns. O Ministério da Produção (Produce) adiou recentemente o início da temporada de pesca da anchova no norte e centro do Peru devido à “falta de condições biológicas para o desenvolvimento de atividades extrativistas”.
Isso terá um sério impacto nas importantes exportações de farinha e óleo de peixe do Peru, já que o volume de produção anual cairá cerca de um terço. Atualmente, o Peru responde por 20% da demanda mundial por esses produtos.
A estimativa de crescimento econômico para 2023, que oscila entre 1,9% e 2,0%, será novamente revisada para baixo. Embora medidas preventivas estejam sendo tomadas para evitar maiores danos, já que 18 regiões declararam estado de emergência por 60 dias, isso pode ser contraproducente devido ao alto grau de informalidade da economia peruana.
Se o El Niño global coincidir com o fenômeno El Niño costeiro, que eleva a temperatura do mar, os efeitos climáticos podem ser moderados a altos no primeiro trimestre de 2024.
IMPACTO
De acordo com a consultoria Macroconsult, a última vez que um fenômeno El Niño de alta intensidade foi registrado no Peru, em 2017, as perdas somaram US$ 3,1 bilhões.
“O último fenômeno fez com que a economia crescesse 1,5 pontos percentuais abaixo das expectativas”, disse Luis Miguel Castilla, ex-chefe do Ministério da Economia e Finanças, à rádio local Exitosa.
Atendendo a que já se confirmou o início do fenômeno global, cujos efeitos tenderão a acentuar-se no final do ano, o impacto será apreciado nos números do segundo semestre de 2023 e primeiro semestre de 2024.
Castilla garantiu que o crescimento em 2023 terá que ser corrigido para baixo novamente. “Em geral, todas as previsões foram condicionadas. Na ausência de um fenômeno climático, ou bastante ameno, o governo prevê um crescimento de 2,5% para este ano. Agora, com esses eventos – incluindo a decretação do estado de emergência em regiões com alto índice de informalidade trabalhista – espera-se um crescimento bem menor”, acrescenta.
Fernando Gonzales, economista sênior do centro de estudos econômicos IPE, disse à BNamericas que as perspectivas econômicas já estavam enfraquecidas pelo ritmo lento da construção e do consumo privado, mas agora a situação se complica ainda mais.
“Recentemente revisamos [para baixo] nossa projeção [do PIB anual] de 1,9% para 1,7%. Se você adicionar a isso o risco do fenômeno, isso definitivamente pode diminuir ainda mais nossa taxa de crescimento. Estamos partindo de um índice bastante baixo para os padrões que tínhamos antes da pandemia”, comentou.
Por sua vez, Hugo Perea, economista-chefe do BBVA Research para o Peru, afirma que as últimas anomalias no mar peruano e os riscos climáticos afetarão as novas projeções que serão publicadas em 21 de junho.
“É provável que tenhamos que ajustá-los, já que, quando examinamos os relatórios da comissão encarregada dos Estudos do Fenômeno El Niño, em março, a probabilidade de um novo fenômeno era baixa; mesmo que fosse diluído”, disse Perea à BNamericas.
O BBVA estima atualmente um crescimento de 1,9% para o PIB peruano em 2023 e 3% em 2024; mas esses números serão ajustados este mês.
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