Fitch: default da Digicel é uma possibilidade real

Macroeconomia, taxas de juros crescentes e condições de mercado desfavoráveis estão dificultando os esforços da Digicel de refinanciar US$ 925 milhões em notas seniores sem garantia com vencimento em março de 2023.

“Há uma baixa margem de segurança para a empresa, e um processo de default e/ou default é uma possibilidade real”, disse a Fitch em comunicado.

A agência de classificação rebaixou o rating de default de emissor de longo prazo do Grupo Digicel, de ‘CCC’ para ‘CCC-’.

A Fitch acrescentou que há uma probabilidade crescente de uma reestruturação abrangente nas várias entidades, devido ao vencimento de mais de 70% da dívida consolidada do grupo de telecomunicações em dois anos.

Em março, a dívida da Digicel era de US$ 5,92 bilhões.

Embora a Fitch tenha previsto uma recuperação do Ebitda operacional de US$ 580 milhões no ano fiscal de 2022 (que acaba em março) para US$ 610 milhões no ano fiscal de 2024, ela afirmou que esse nível de Ebitda após o capex de manutenção não é suficiente para reduzir a dívida de maneira significativa.

A Digicel vendeu recentemente sua unidade do Pacífico por US$ 1,6 bilhão. A empresa está saindo do Panamá e concentrando-se apenas no Caribe e em El Salvador.

O negócio da operadora móvel é bastante sólido, com cotas líderes de mercado na maioria dos países onde opera, mas sua dependência do celular e de países com economias fracas – e também expostos a furacões – está prejudicando seus negócios.

A estrutura do negócio atrapalha a Digicel. Sua complexa estrutura corporativa, seu status de incorporação em dezenas de países e natureza concentrada de tomada de decisão tem um impacto negativo no perfil de crédito e rating, segundo a Fitch.

NEGÓCIOS DA DIGICEL

Apesar de seus problemas financeiros, a Digicel ainda está investindo, com foco no Caribe, onde a operadora mantém uma posição forte e possui redes de fibra e móvel implantadas.

A Digicel tem quase 10 milhões de clientes e receita de mais de US$ 1,5 bilhão por ano, de acordo com seu último relatório ESG. A Fitch prevê que a receita tende a US$ 2 bilhões no ano fiscal de 2025, ante US$ 1,8 bilhão no ano fiscal de 2022.

A Fitch assume que o capex médio da Digicel será de US$ 275 a 300 milhões por ano. A empresa sediada em Kingston não fornece números de capex.

A operadora está investindo principalmente em 4G e fibra ótica para fibra terrestre até redes domésticas (FTTH) e cabos submarinos. A Digicel possui fibra terrestre implantada em 14 mercados e possui cerca de 3,1 mil quilômetros de fibra ótica submarina.

Recentemente, a Digicel anunciou a introdução de velocidades gigabit em sua rede de fibra nas Bermudas, bem como a extensão da cobertura de seu serviço 4G LTE para 98% da população da Guiana.

Além de sua rede de fibra, a Digicel oferece entretenimento 4K HD.

A empresa possui um conjunto de aplicativos (SportsMax, D'Music, Loop, GoLoud, PlayGo, BiP, Billo e MyDigicel) como parte de sua estratégia de migrar de uma operadora puramente móvel para uma digital.

No ano passado, ela anunciou um investimento para estender o cabo submarino Deep Blue One, de Trinidad à Guiana Francesa. A empresa também informou à BNamericas que estava procurando mais oportunidades no Caribe.

São Vicente e Granadinas recentemente selecionaram a Digicel como parceira de conectividade em um contrato de cinco anos. Ele fornecerá internet sem fio de 300 Mbps em 116 locais, incluindo centros comunitários e de aprendizado, além de locais de turismo.