Governo boliviano entra em conflito com Santa Cruz por financiamento de infraestrutura

A disputa entre o governo central boliviano e o departamento de Santa Cruz sobre o financiamento de obras públicas aumentou, com autoridades em La Paz alertando que, se o departamento não fizer seu pagamento de contrapartida de US$ 70 milhões pela rodovia Santa Cruz-Buena Vista-Las Cruces em breve, um empréstimo de projeto de US$ 112 milhões estará em risco.

O ministro das Obras Públicas, Edgar Montaño, afirmou em entrevista coletiva que o país tem até 4 de abril para desembolsar o empréstimo aprovado pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) em 2017, e que o prazo não pode ser adiado.

Embora Montaño tenha dito que o governo central tem os fundos para seu próprio pagamento de contrapartida, não pode começar a usar o dinheiro até que um acordo intergovernamental seja alcançado com o governo de Santa Cruz.

Ele acrescentou que o governador do departamento, Luis Fernando Camacho, e seu governo ainda não responderam aos pedidos feitos por La Paz.

No início deste mês, o secretário de finanças de Santa Cruz, Orlando Saucedo, disse que os pagamentos de contrapartida foram acordados pelo governo anterior sem sequer garantir o financiamento.

“Se o governo [central] obtiver esse financiamento para nós, o governo [departamental] estará disposto a assumir a construção desse projeto. Não seremos irresponsáveis como o governo anterior, que assumiu compromissos sem financiamento”, disse.

O projeto envolve a pavimentação de 80,9 km entre a cidade de Santa Cruz e Buena Vista e Las Cruces, incluindo a construção de 20 pontes.

INVESTIMENTO PÚBLICO ZERO

A nova chefe da Câmara de Construção de Santa Cruz (Cadecocruz), Carolina Gutiérrez, afirmou que os investimentos em infraestrutura no departamento são feitos quase exclusivamente pela iniciativa privada.

“O investimento público é praticamente zero, é cerca de 1% das obras em Santa Cruz. Não há obras públicas, tudo é feito por empresas locais”, disse ela ao jornal local El Deber.

Além disso, todos os três níveis de governo (as autoridades da cidade de Santa Cruz, o departamento e o governo central) têm dívidas não pagas com empresas de construção.

Nesse sentido, o departamento deve 80 milhões de bolivianos (US$ 12 milhões) em pagamentos de contrapartida para projetos que também envolvem o governo central, enquanto a capital deve 280 milhões de bolivianos.

Gutiérrez diz que é difícil calcular a dívida do governo central, já que muitas empresas não revelam os números “por medo de retaliação”.