Governo do Brasil aumenta sua influência dentro do Banco Central

O governo brasileiro indicou Gabriel Galípolo como diretor de política monetária do Banco Central e Ailton Aquino como diretor de fiscalização, ampliando sua influência dentro da autoridade monetária.

Galípolo (foto) e Aquino substituem Bruno Serra Fernandes e Paulo Souza, cujos mandatos terminaram em fevereiro. As indicações precisam ser aprovadas pelo Senado.

“Olhando para o perfil das nomeações, vemos que o governo [...] dá mais ênfase ao crescimento econômico do que ao controle da inflação”, disse à BNamericas Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil para América Latina.

O Banco Central é comandado por oito diretores e um presidente, que determinam a taxa Selic a cada 45 dias. Em 2021, a entidade se tornou independente, com os diretores passando a cumprir um mandato fixo.

Porém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem criticado repetidamente o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, por seu foco no controle da inflação e por manter a taxa Selic elevada, atualmente em 13,75%, apesar da desaceleração da inflação.

Enquanto o governo afirma que a taxa elevada sufoca o crescimento, o banco alega que ela é necessária como resposta aos elevados gastos públicos.

Os mandatos da diretora de assuntos internacionais Fernanda Guardado e do diretor de relacionamento Mauricio Moura terminam em dezembro. Outros dois diretores deixarão o cargo no ano que vem. O mandato de Campos Neto termina no final de 2024.

“À medida que os mandatos de outros diretores terminam e as indicações do governo ganham força, veremos mais poder do governo dentro do Banco Central. Com isso, tendemos a ver [no próximo ano] um Banco Central trabalhando para reduzir mais drasticamente a taxa de juros, que sempre foi a intenção do governo”, acrescentou Rostagno.

Galípolo é atualmente o favorito para substituir Campos Neto.

“Não seria surpresa começar a ver decisões divididas [do comitê de política monetária] e opiniões diametralmente opostas sobre qual deveria ser a postura política adequada. Além disso, a percepção de que Galípolo acabará substituindo Campos Neto tem potencial para gerar atrito e desconforto”, escreveu o Goldman Sachs em um relatório.