Investidor dos EUA fala sobre oportunidades e desafios de projeto de amônia verde de US$ 2,5 bi no Chile

O investidor dos setores de mineração e energia do Cone Sul, James Calaway, falou sobre as oportunidades e os desafios enfrentados pelo projeto de amônia verde de US$ 2,5 bilhões planejado para o norte do Chile, que está sendo desenvolvido por sua empresa, a MAE.

Batizado de Volta, o projeto foi proposto para o polo industrial e minerário de Mejillones, no deserto do Atacama, e atualmente está em fase de licenciamento.

“Somos de longe o projeto mais avançado do deserto do Atacama”, disse Calaway, fundador e presidente da MAE, que investiu no projeto argentino de lítio Olaroz, via Orocobre, e em várias usinas de geração distribuída do programa PMGD no Chile.

Citando o fato de Mejillones já processar amônia cinza e de haver demanda no setor de  mineração, que poderia absorver parte das vendas, Calaway afirmou que não é preciso pensar muito, “é apenas uma questão de preço”.

A MAE prevê atingir uma taxa de produção de 620.000 t/ano de amônia verde, usando 110.000 t/ano de hidrogênio verde como insumo principal.

A eletricidade para o complexo viria de uma usina solar fotovoltaica planejada de 600 MW, que inclui um sistema de armazenamento em baterias. A MAE também planeja extrair energia da rede.

IRRADIAÇÃO SOLAR E DEMANDA LOCAL

O principal desafio para os desenvolvedores de projetos de hidrogênio hoje é a parte econômica do projeto, ou o custo de produção, com o fornecimento de eletricidade entre os fatores que determinam a viabilidade da obtenção de contratos de offtake e, por sua vez, o início dos trabalhos.

Calaway destacou o recurso solar de classe mundial presente em Mejillones, bem como os potenciais compradores locais já existentes.

“Na verdade, acreditamos que Mejillones pode ser o melhor lugar do planeta, literalmente, e isso é motivado por algumas coisas”, disse Calaway durante uma conferência organizada pelo think tank norte-americano Wilson Center.

Sobre os níveis de irradiação, o executivo acrescentou que, “no contexto da competitividade, isso é muito importante”. O Atacama dá ao Chile uma “vantagem competitiva fundamental”.

“Acho que é um lugar natural e certamente espero que nos livremos dessa amônia nojenta que está poluindo o mundo, substituindo essa amônia ali mesmo em Mejillones, levando-a para as minas de cobre como um dos os primeiros usos domésticos”, pontuou Callaway sobre os compradores.

A amônia é utilizada na fabricação de explosivos para operações de mineração.

CUSTOS DO SISTEMA

Embora o Chile produza eletricidade abundante e a preços competitivos durante o dia, principalmente graças ao desenvolvimento rápido de parques de energias renováveis, os preços noturnos são mais elevados.

“Um dos problemas que temos no Chile é que é o lugar mais barato onde você poderia estar durante o dia, mas a energia é muito cara à noite”, lembrou Calaway.

“As plantas não funcionam apenas durante o dia, você precisa que suas plantas funcionem pelo menos 80% do tempo, mesmo que elas desacelerem um pouco.”

O preço da eletricidade no Chile registou uma tendência de queda, impulsionada pelas tecnologias renováveis. Os custos do sistema, porém, associados a vários fatores, como taxas de serviços complementares, limites de flexibilidade do sistema e tarifas ligadas a um regime de estabilização de preços da geração distribuída (PMGD), tenderam a aumentar.

A agência estatal de desenvolvimento Corfo tem explorado encargos sistêmicos na rede.

Esses encargos, segundo Calaway, colocam um fardo enorme na capacidade de usar a rede para obter energia renovável. “É preciso ter cautela ao analisar os encargos sistêmicos no que se refere a essa indústria.”

Ao destacar o potencial de combinar energia solar e armazenamento, Calaway também mencionou a possibilidade de um parque eólico no interior, dado o perfil favorável da produção noturna.

Referindo-se às conversas com potenciais financiadores, o executivo afirmou: “No final, chega-se a essa questão muito incisiva de quanto dinheiro você vai ganhar. Não dá para escapar disso”.

Segundo Calaway, era preciso vender uma tonelada de amônia por US$ 700 ou menos, acrescentando que os subsídios não eram sustentáveis no longo prazo.

QUEDA NOS CUSTOS DA ENERGIA SOLAR E DO ARMAZENAMENTO

Em nível mundial, fatores como economias de escala e avanços tecnológicos estão ajudando a reduzir o custo dos painéis solares fotovoltaicos e das baterias.

No ano passado, a MAE solicitou orçamentos para sistemas de armazenamento de energia.

Calaway relatou que o preço da tecnologia e da energia solar estavam despencando.

“O custo do armazenamento solar e em massa está caindo a uma velocidade que as pessoas não entendem, elas estão avaliando isso mal”, salientou Calaway. “Está caindo muito mais rápido, principalmente do armazenamento.”

O preço do armazenamento, disse ele, caiu para US$ 1/kW em relação à oferta original recebida de US$ 4/kW.

PONTO DE INFLEXÃO

“Para conseguirmos vencer e transformar o Atacama no lugar mais valioso do planeta, é preciso fundir a energia solar com o armazenamento e que o custo dos elétrons – sem passar pela rede, mas diretamente em nossa planta – seja baixo o suficiente, aí sim estaremos realmente interessados em construir uma grande indústria.”

Ressaltando que não era necessário um projeto-piloto, Calaway disse que estavam perto disso no Atacama, mas ainda não haviam chegado lá. Ele acrescentou que, com o Estado e com o apoio do financiamento internacional, os trabalhos poderão começar.

ELETROLISADORES

O diretor executivo da Corfo, José Miguel Benavente, falou durante o evento, discutindo os subsídios oferecidos para projetos de eletrolisadores, entre outros temas.

A Corfo está com um processo seletivo em andamento, oferecendo apoio de até US$ 10 milhões para projetos de construção ou montagem de eletrolisadores no Chile.

Serão necessários vários gigawatts de capacidade de eletrólise. A montagem ou fabricação no país apoiaria o crescimento das cadeias de valor locais e reduziria os custos logísticos associados, além de aliviar os riscos da cadeia de abastecimento.

Os projetos devem ser entregues até 30 de agosto.

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