México cancela mais de 500 licitações de manutenção de rodovias e pede intervenção do Exército

A Secretaria de Infraestrutura, Comunicações e Transportes (SICT) do México cancelou centenas de licitações para manutenção de rodovias e pediu ao Exército que assumisse as obras, medida que abalou a indústria de construção local.

A federação mexicana de faculdades de engenharia civil (Femcic) destacou que as licitações canceladas envolvem o programa de manutenção de rodovias federais supervisionado pela SICT, cancelado pela pasta em 6 de fevereiro, segundo o diário Reforma, que estimou que 559 licitações foram anuladas.

O presidente da câmara mexicana de construção (CMIC), Francisco Solares, disse à BNamericas que os recursos envolvidos nesses processos giram em torno de 11 bilhões de pesos (US$ 645 milhões).

“Os processos de licitação começaram em dezembro e estavam na última fase, mas, em vez de um aviso de concessão, eles [SICT] enviaram um comunicado informando aos participantes, alguns dos quais são nossos afiliados, que as licitações haviam sido canceladas”, disse ele. 

“Alguns comunicados diziam que o cancelamento se devia ao financiamento insuficiente, já que a Secretaria da Fazenda tinha ‘reservado’ 11 bilhões de pesos deste programa. Não sei exatamente o que esse termo significa”, acrescentou.

Segundo Solares, algumas das 9.000 empreiteiras afiliadas à entidade se concentravam em obras de manutenção de rodovias e dependiam desses programas.

“Este é um programa de manutenção de rotina. Se não for feita, as rodovias se deterioram e a manutenção corretiva fica bem mais cara do que a preventiva”, ressaltou.

Em 20 de janeiro, a Secretaria de Defesa (Sedena) relatou à SICT que o presidente Andrés Manuel López Obrador (AMLO) havia solicitado aos engenheiros militares que assumissem os projetos de manutenção das rodovias programados para este ano, de acordo com o diário Reforma.

O presidente confirmou na manhã desta terça-feira (20) que pediu a intervenção do Exército. Os engenheiros militares garantiriam que as obras fossem concluídas antes do final do seu mandato, em outubro, e sem a corrupção que supostamente permeia os processos de licitação, apontou AMLO.

“Se realizarmos as obras com métodos tradicionais, elas não serão bem feitas e nem ficarão prontas a tempo”, disse ele durante sua coletiva de imprensa matinal. “Os engenheiros militares têm a garantia de realizar o trabalho [...], é por isso que precisamos deles”, completou o presidente.

Em entrevista anterior, Solares afirmou que a intervenção do Exército nesse tipo de trabalho é “excessiva” e não promove a transparência.

“Acredito que seja um excesso de responsabilidades e deveres para o nosso Exército, do qual estou certo de que todos nos orgulhamos, mas em nenhum lugar do mundo o Exército foi concebido para construir obras civis”, avaliou ele. “Outra questão é que não há prestação de contas nem transparência referente ao uso dos recursos destinados para esses projetos.”

A SICT não respondeu imediatamente ao pedido de comentários da BNamericas.