Orçamento da concessionária de energia do México para 2024 é considerado insuficiente

O orçamento proposto para 2024 pela concessionária de energia pública mexicana CFE será insuficiente para aliviar o congestionamento da rede, conceder um projeto de transmissão de 700 km e cumprir os compromissos de energia limpa, de acordo com um especialista.

“A CFE enfrenta desafios muito importantes sob diferentes ângulos. A sua dívida não é um problema, pois é relativamente baixa em comparação com a da Pemex [companhia petrolífera federal]. Os dilemas da CFE estão em seus investimentos”, disse Oscar Ocampo (foto), chefe de energia do think tank mexicano de competitividade IMCO, à BNamericas.

A administração do presidente Andrés Manuel López Obrador propôs alocar 493 bilhões de pesos (28,7 bilhões de dólares) à empresa, um aumento de 7% em termos reais quando comparado com o orçamento proposto para 2023. O orçamento ainda está sujeito a alterações e a Câmara deverá aprová-lo até 15 de novembro.

Para as suas subsidiárias CFE Distribución e CFE Transmisión, porém, o governo propôs cortes de 34% e 29%, respectivamente.

Entre as maiores preocupações da empresa está a crescente demanda nos estados do norte devido ao nearshoring e ao uso de ar condicionado decorrente das ondas de calor, que resultaram em taxas mais altas para usuários em estados como Sonora e apagões em cidades industriais como Monterrey, capital do estado de Nuevo León.

“A CFE não está aumentando a sua infraestrutura de transmissão no ritmo que deveria”, disse Ocampo, acrescentando que a procura está crescendo mais rapidamente do que as estimativas do governo. Segundo o Ministério da Energia (Sener), a demanda cresceu 3,4% no ano passado.

Concurso de megatransmissão

Uma solução anunciada pela empresa inclui uma licitação para a construção de 766 km de linhas de 400 kV em Sinaloa, Nayarit e Sonora. Os detalhes da licitação não foram divulgados, mas o CFE já se reuniu com representantes de 44 empresas para apresentar o projeto.

“Este projeto teria que começar o mais rápido possível porque aquela área enfrenta uma pressão muito significativa. O sistema nessa área está sob muita pressão”, disse Ocampo.

Mas dado que a concessionária de energia não tem feito muito uso de parcerias público-privadas ou de fundos fiduciários como o Fibra E para financiar projetos, esse trabalho de transmissão teria que ser financiado mediante um orçamento federal apertado, disse ele, duvidando que o orçamento de investimento possa cobrir esses e outros projetos.

Do orçamento total da CFE, o governo quer alocar 54,2 bilhões de pesos para investimentos, dos quais 21 bilhões de pesos iriam para infraestrutura elétrica, 23,1 bilhões de pesos para manutenção e 499 milhões de pesos para estudos de reinvestimento. Cerca de 9,3 bilhões de pesos seriam destinados a aquisições e o restante a programas e escritórios.

Estratégia de transição energética

O governo também propôs aumentar o seu orçamento para a estratégia de transição para tecnologias e combustíveis limpos em 3,4%, para 10,6 bilhões de pesos.

Embora a proposta não mencione detalhes, Ocampo disse que os recursos provavelmente irão para a segunda ou terceira fase da planta solar de Puerto Peñasco, avaliada em 1,6 bilhões de dólares, que a CFE está construindo no estado de Sonora.

“Existem várias possibilidades. Poderia ser para o projeto de energia fotovoltaica em Sonora, mas também poderia ser para redes de transmissão desta energia renovável”, disse.

O México deve cumprir, no próximo ano, o seu compromisso de 35% de geração de energia limpa. Mas segundo Ocampo, esse cenário é improvável. “Podemos afirmar com certeza que não há como o Estado cumprir esse compromisso”, afirmou.