Presidente de câmara de construção argentina não concorda com proposta de abolir obras públicas

A proposta do candidato à presidência da Argentina, Javier Milei, de acabar com a participação do Estado no desenvolvimento de infraestrutura é ruim, segundo o presidente da câmara de construção Camarco, Gustavo Weiss.

“O estado é fundamental para o desenvolvimento da infraestrutura. Nos países mais desenvolvidos do mundo e com maior número de parcerias público-privadas, onde os projetos são executados exclusivamente com venture capital privado, esses projetos não representam mais de 10% do total. Os 90% restantes são conduzidos exclusiva ou parcialmente pelo Estado”, comentou Weiss (foto) durante a apresentação de um livro online.

Milei, que se autodenomina anarcocapitalista, conquistou 30% dos votos nas primárias nacionais de domingo, sete pontos percentuais à frente do segundo colocado, o peronista Sergio Massa.

Milei propõe eliminar as obras públicas, citando o baixo desempenho e os grandes escândalos de corrupção relacionados a esses projetos.

Segundo Weiss, o investimento em infraestrutura é baixo há décadas, mas o país precisa desenvolver um amplo consenso para alcançar a estabilidade e promover o desenvolvimento.

Adelmo Gabbi, presidente da Bolsa de Valores de Buenos Aires, disse no mesmo evento: “Sou um liberal ferrenho, mas entendo que o Estado é fundamental para esse tipo de coisa. Acredito que é bom para a liberdade que o Estado participe do desenvolvimento das condições de infraestrutura de um país”.

O setor de construção da Argentina foi bastante afetado pelo aumento da inflação, enquanto algumas empresas também acusam agências governamentais de atrasos nos pagamentos.

Uma tentativa de implementação de PPPs de infraestrutura durante o governo Mauricio Macri (2015-2019) fracassou devido a problemas de financiamento.

As propostas de Milei também incluem a extinção do Banco Central, a substituição do peso pelo dólar, a saída do Mercosul e a implementação de um sistema de concessões de infraestrutura sem intervenção do Estado. Outras propostas, como abolir o Ministério da Mulher, um referendo para proibir o aborto e o corte de gastos com educação pública, foram duramente criticadas.

Massa, Milei e a candidata de direita Patricia Bullrich, ex-ministra de Segurança que obteve 16% dos votos nas primárias, disputarão as eleições marcadas para 22 de outubro. Se necessário, haverá segundo turno em 19 de novembro.