Problemas de financiamento do setor privado frustram planos de infraestrutura de Milei

O presidente argentino Javier Milei não teria um plano de longo prazo para o segmento de infraestrutura, para além da contenção dos gastos públicos e da esperança de que o setor privado compense as lacunas, segundo o economista Miguel Kiguel.

No entanto, os problemas de acesso ao financiamento do setor privado e outras questões estão dificultando intensificação da atividade das empresas no segmento.

“Ainda não foi definido como será feita a infraestrutura. Acredito que [o governo] tentará garantir que o setor privado faça o máximo possível, mesmo com todos os problemas, uma vez que já tentaram concessões e esses contratos não foram cumpridos”, afirmou Kiguel, ex-secretário de finanças do Ministério da Economia e atual presidente da consultoria Econviews, em resposta a uma pergunta da BNamericas em um seminário.

Desde que assumiu o cargo, em dezembro, Milei praticamente suspendeu todo o financiamento federal para obras públicas, com o objetivo explícito de colocar o desenvolvimento de infraestrutura principalmente nas mãos de empresas privadas.

A câmara de construção argentina Camarco aponta que as medidas de austeridade de Milei paralisaram cerca de 3.500 projetos e que quase 100.000 empregos foram perdidos.

“Não está claro o que vai para concessão ou não, ou o que vai ser feito pelo Estado. Isso ainda não foi definido”, destacou Kiguel em um evento organizado pelo think tank chileno CEP em Santiago para discutir os desafios econômicos da vizinha Argentina.

De acordo com o economista, as empresas privadas têm interesse em participar de muitos setores da economia argentina, como energia, mineração e petróleo, mas estão “esperando para ver” o que acontece, por conta da possibilidade de os esforços de desregulamentação de Milei serem revertidos em médio prazo.

“Elas não querem perder se as coisas, de fato, mudarem, mas estão agindo com cautela”, disse ele, acrescentando que a Argentina já teve uma tendência de oscilar entre extremos políticos, o que acaba afastando o investimento de longo prazo.

Quando questionado pela BNamericas sobre os obstáculos específicos para o investimento privado em infraestrutura na Argentina, Kiguel explicou que o setor ainda enfrenta os mesmos problemas que afundaram o programa de PPPs promovido durante a presidência de Mauricio Macri (2015-2019).

“O principal problema é o financiamento. Elas não têm acesso a empréstimos agora, não há crédito de longo prazo na Argentina”, ressaltou.

Durante sua apresentação no seminário do CEP, o especialista lembrou que Milei conseguiu melhorar temporariamente a situação fiscal do país, mas ainda enfrenta grandes desafios no controle da inflação desenfreada e na suspensão dos controles sobre ações governamentais, entre eles os controles monetários e de capital, e outras regulamentações.

Também apontou a falta de apoio de Milei no Congresso e os conflitos com os governos provinciais como as maiores fraquezas da administração, o que significa que o presidente terá de conduzir negociações perspicazes para aprovar alguma reforma.