Produtora de etanol desenvolve projeto de captura e armazenamento de carbono no Mato Grosso

A brasileira FS Agrisolutions Indústria de Biocombustíveis está desenvolvendo um projeto de captura e armazenamento de carbono para bioenergia (na sigla em inglês, BECCS) em sua usina de etanol em Lucas do Rio Verde, Mato Grosso. O projeto visa capturar o CO₂ produzido na etapa de fermentação do biocombustível, representando uma injeção de CO₂ de 1.160 t/d.

O CO₂ será capturado nas dornas de fermentação e injetado em um reservatório salino com profundidade superior a 800 metros, suficiente para mantê-lo em estado supercrítico em condições de pressão hidrostática. O gás é condicionado para ter pureza de 99,9% e teor de água em torno de 120 ppm. O CO₂ sai das dornas de fermentação com uma pureza entre 95% e 98%, passa por um processo de compressão e depois pela etapa de desidratação.

Daniel Lopes, vice-presidente de sustentabilidade e novos negócios da FS, explicou que o projeto está em fase final de estudos técnicos, visando torná-lo geologicamente viável.

“Caso seja considerado viável, os passos seguintes serão a obtenção de licença ambiental para a instalação do sistema e a definição do marco legal para um negócio dessa envergadura”, revelou o executivo à BNamericas.

Somente após a conclusão dessas etapas a empresa apresentará o cronograma de construção atualizado e a projeção de investimentos.

Lopes também explicou que, uma vez implementado o projeto, o etanol produzido em Lucas do Rio Verde terá pegada de carbono negativa, além dos ganhos com práticas de responsabilidade socioambiental na cadeia de valor da empresa.

“A visão da FS é de ser o maior produtor de combustível carbono negativo do mundo. O BECCS é a forma de chegarmos lá”, disse. Segundo o executivo, o projeto BECCS conta com um conjunto de tecnologias utilizando soluções dominadas há décadas pela indústria petrolífera. A FS tem experiência de trabalho com a SLB (anteriormente Schlumberger) na interpretação de dados sísmicos e gerenciamento de projetos de perfuração, entre outras tarefas.

“Juntos, selecionamos uma série de fornecedores com experiência reconhecida nas várias especialidades envolvidas no projeto, bem como especialistas em projetos de CCS para uma segunda opinião”, acrescentou.

O projeto de engenharia para injeção e armazenamento foi desenvolvido de acordo com as diretrizes do California Air Resources Board (CARB) e padrões e regulamentos EPA Classe VI.

O projeto BECCS da FS ganhou recentemente o apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), órgão público que promove a inovação e foca em ações estratégicas, estruturantes e impactantes para o desenvolvimento sustentável do Brasil.

REGULAÇÃO

Com a implantação do projeto, a FS poderá ser uma das poucas no mundo e a primeira no âmbito da política de biocombustíveis do Brasil (RenovaBio) a ter uma pegada de carbono negativa.

“Isso aponta para a oportunidade a ser explorada pelo Brasil, onde a indústria de etanol já utiliza energias renováveis, além de ter boas características agrícolas, como no caso do milho de segunda safra, diferenciando-se dos EUA, que usa a energia do grid fóssil (gás ou carvão), e não possui duas safras, com maiores impactos oriundos do uso da terra”, declarou a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) em um relatório recente sobre a implementação do quadro regulatório CCUS.

“Assim, o projeto no Brasil não trata apenas de mitigar emissões, mas de retirar CO₂ da atmosfera”, acrescentou a agência.

No documento – que também destaca o projeto-piloto de CCUS da Petrobras no estado do Rio de Janeiro –, a Superintendência de Tecnologia e Meio Ambiente (STM) da ANP afirma ter identificado a “regulação por projeto-piloto” na experiência internacional como a alternativa mais adequada para negociar com estes projetos face à falta de regulamentação. A ideia é que estes projetos sirvam de base para acumular conhecimento sobre o CCUS e depois regulamentá-lo em termos mais gerais.

A STM salientou, no entanto, que a regulação por projeto-piloto requer algumas diretrizes iniciais, fornecidas pelos regulamentos atuais e padrões transnacionais. Entre as recomendações feitas à diretoria da agência estão, além de reconhecer a regulação por projeto-piloto como instrumento adequado, viabilizar investimentos na capacitação do corpo técnico da ANP e desenvolver ações para promover a aceitação social.