Projetos multibilionários e integração energética na Argentina

TGS

A transportadora argentina de gás TGS reafirmou seu interesse na produção de líquidos de gás natural usando a produção da formação de hidrocarbonetos não convencionais de Vaca Muerta.

A empresa afirmou anteriormente que a infraestrutura de condicionamento de gás na província de Neuquén poderia ser adaptada com relativa facilidade para atingir este objetivo.

“Estamos constantemente analisando qual é a melhor maneira de oferecer o serviço de processamento em Vaca Muerta”, disse o CEO da TGS, Oscar Sardi, durante o evento Midstream & Gas Day, organizado pelo meio de comunicação local EconoJournal.

A TGS tem um projeto associado de líquidos de gás natural de US$ 2,5 bilhões em avaliação. “É uma soma enorme e, claro, exige que os produtores decidam produzir líquidos”, acrescentou Sardi. O projeto também está voltado para o processamento do gás associado.

Os produtores poderiam estar recuperando o propano, o butano e a gasolina natural, explicou Sardi, citando a importância para os planos das empresas do regime de promoção de investimentos do governo, incorporado no projeto de lei de reforma econômica que avançou recentemente no Congresso. O projeto de lei contém uma seção sobre hidrocarbonetos, focada na desregulamentação do setor, direitos de exportação e paridade de preços.

Em uma perspectiva mais ampla, Sardi referiu-se à necessidade de a Argentina atender primeiro a demanda interna por gás, para depois reforçar o foco no gás e nas exportações de produtos de valor acrescentado.

Integração do gás natural com o Chile

O Chile e a Argentina estão ligados por sete conexões principais, sendo hoje a maior parte do gás bombeada via gasoduto GasAndes, que liga a bacia de Neuquén e a região metropolitana de Santiago.

O CEO da GasAndes, Santiago Romero Oneto, revelou que a demanda na zona central do Chile estava principalmente ligada à geração de energia e que os compradores vinham absorvendo praticamente toda a oferta argentina disponível. Ele se referiu ao impacto do esforço de transição energética do Chile, que envolve uma rede livre de emissões.

“Hoje somos muito afetados pela estrada de transição energética que o Chile percorre”, disse Romero.

O Chile está avançando “muito rápido”, acrescentou. “A incorporação de grandes projetos solares e eólicos vem desbancando a geração termelétrica.”

Alguns players do ecossistema energético citam um papel para as usinas de gás flexíveis, as quais podem, quando necessário, ser convertidas para funcionarem com combustíveis sustentáveis.

Um estudo realizado pela associação de gás natural do Chile prevê que a demanda por gás para produção poderá cair cerca de metade em uma década.

“Há muito trabalho pendente a ser feito para integrar o Chile e a Argentina”, comentou Alejandro Larrive, diretor-geral da unidade chilena da produtora de metanol Methanex. “Houve discussão em um painel anterior sobre mineração, energia, infraestrutura. Creio que a Argentina geralmente olha mais para o Atlântico do que para o Pacífico.”

A Câmara de Comércio Chile-Argentina trabalha na frente de integração, visando estimular o acesso da Argentina aos mercados do Pacífico em rápido crescimento por meio dos portos chilenos.

A Methanex utiliza gás produzido localmente e também gás importado da Argentina. A empresa, que transferiu dois trens de produção chilenos para os EUA depois que a Argentina fechou as portas de exportação em 2007, em meio à pressão interna, pode atualmente receber até 3 MMm³/d (milhões de metros cúbicos por dia) – abaixo dos volumes originais de 10 MMm³/d,

A Methanex está importando gás argentino, mas não durante o inverno do Cone Sul, quando a demanda interna no país aumenta.

Um objetivo da Methanex é ter um fornecimento robusto durante todo o ano para utilizar melhor a capacidade da planta. Romero e Larrive citaram a importância para a Argentina de continuar a reconstruir a confiança na segurança do abastecimento.

Exportações de gás

O Enargas, órgão argentino que regula o mercado de gás, divulgou relatório mensal no qual afirma que 9,57 MMm³/d foram exportados em abril, ante 9,62 MMm³/d no mesmo mês do ano passado.

Cerca de 9,37 MMm³/d, foram despachados para o Chile, principalmente via GasAndes. O restante foi despachado para o Uruguai (190 mil m³/d via gasoduto Cruz del Sur e 10 mil m³/d pelo PetroUruguay).

Em desenvolvimento recente, o governo chileno autorizou exportações de gás para o norte da Argentina, uma região afetada pela queda nas importações de gás boliviano e por atrasos num importante projeto de midstream.

O gás será despachado pelo duto Norandino, da chilena Engie Energía, que liga o terminal de importação de GNL Mejillones, na região de Antofagasta, à província argentina de Salta. A unidade de refino da Engie e da petroleira estatal chilena Enap celebraram um acordo, sob o qual esta exportará volumes para a estatal Energía Argentina.

Metanol verde

A Methanex informou sofrer pressão em torno do metanol verde. A molécula é produzida pela combinação de hidrogênio verde e dióxido de carbono.

Referindo-se à diferença de custos de produção entre as variantes de combustível verde e fóssil, Larrive afirmou que “a realidade é que isto custa atualmente quatro vezes o que custa o metanol convencional, e a realidade também é que os clientes não estão dispostos a pagar isso”.

A diretoria da empresa analisa potenciais mercados e custos, mas a produção de metanol verde segue um pouco distante, acrescentou Larrive, citando o seu papel como combustível para transporte marítimo.

Projetos de metanol verde estão planejados para a região de Magalhães, e a planta de demonstração de e-combustíveis Haru Oni, que utiliza metanol verde, já está em operação.

Exportações de petróleo YPF

A petroleira estatal argentina YPF lançou este mês uma licitação de US$ 2,5 bilhões para construir o projeto petrolífero Vaca Muerta Sur, voltado para a exportação.

O projeto envolve a construção de infraestrutura de dutos entre a bacia de Neuquén e um terminal planejado em Punta Colorada, província de Río Negro – uma zona capaz de receber transportadores de petróleo de grande porte e onde também está previsto o início das exportações de GNL.

As autoridades esperam assinar contratos entre outubro e novembro, iniciar a construção no próximo ano e lançar as operações em 2026.

Um objetivo é trabalhar com outros produtores, assinalou o vice-presidente de infraestrutura da YPF, Gustavo Gallino. O projeto é para o “país” e não apenas para a YPF, disse ele.

Gallino também sublinhou a importância do Regime de Incentivo a Grandes Investimentos (RIGI), argumentando que o interesse não era para que os lucros aumentassem, mas para garantir que o projeto fosse financeiramente viável.

A YPF está tem aumentado sua produção de óleo de xisto, de olho no mercado de exportação.