Setor de datacenters do Brasil vê governo comprometido, mas ainda aguarda políticas públicas

A indústria brasileira de datacenters continua aguardando uma política pública que vise facilitar os negócios e estimular o setor, embora considere que a atual gestão está comprometida com o segmento.

“Poucas vezes vi o governo federal tão sensível ao setor. Temos amplo diálogo e trabalhos conjuntos com o MDIC [Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços]. Mas a política tem seus próprios tempos, e o próprio governo tem suas prioridades”, disse à BNamericas Gustavo Moraes, presidente da Associação Brasileira de Data Center (ABDC).

A ABDC participa de grupo de trabalho com o MDIC, ao lado da associação de TIC Brasscom e de outras entidades do setor, para discutir medidas para melhorar a competitividade da indústria de tecnologia e atrair mais investimentos para o país.

Em novembro, a ABDC anunciou propostas para uma política nacional de datacenters, elaborada em parceria com o ministério. Desde então, porém, as propostas avançaram pouco, admite Moraes.

Além do diálogo com o Poder Executivo, Moraes quer começar a estruturar uma frente parlamentar para datacenters, reunindo legisladores alinhados à agenda do setor.

O grupo seria semelhante às frentes parlamentares existentes para os setores de agronegócio, eletroeletrônico, telecomunicações e empreendedorismo, entre outros.

Entre as principais demandas da indústria de datacenters estão melhorias no quadro de licenciamento, programas de formação de pessoal especializado e facilitação da contratação de especialistas de outros países, bem como isenções fiscais para determinados equipamentos e componentes utilizados pela indústria.

Embora não seja a única entidade que reúne empresas do setor de nuvem e infraestrutura de dados, a ABDC cresceu desde a sua criação, e recentemente ultrapassou a marca de 115 associados.

Esta semana, a AWS se associou formalmente à entidade, contou Moraes.

ENERGIA

A ABDC estima que existam 7 GW de capacidade elétrica disponível no país que poderia ser utilizada por datacenters.

Dados recentes do Ministério de Minas e Energia (MME) mostram que a carga de energia destinada aos datacenters pode chegar a 2,5 GW até 2037. Essa projeção considera apenas novos projetos apresentados para os estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Ceará.

Atualmente, há 12 projetos de datacenters em tramitação no ministério relacionados ao acesso dessas instalações à rede de transmissão de energia do Brasil. Sete deles possuem autorizações – aprovadas, mas ainda não emitidas – e cinco ainda estão em análise técnica.

O ministério informou, ainda, que realizou estudos de planejamento com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) sobre o tema para cobrir o crescimento esperado da demanda por datacenters.

“Esses estudos, realizados em parceria com a EPE, são de extrema importância para o planejamento do setor elétrico brasileiro, para mitigação de riscos, além de desempenhar um papel fundamental na formulação de políticas baseadas em evidências. O MME está preparando o nosso país para o futuro que, todos nós sabemos, será cada vez mais tecnológico”, disse o ministro Alexandre Silveira em nota na semana passada.