Tensões entre governos centrais e locais paralisam setor de infraestrutura de Santa Cruz, segundo especialista

As obras públicas paralisadas no departamento de Santa Cruz, na Bolívia, são resultado de políticas econômicas opostas das administrações central e do departamento, segundo Walter Morales, CEO do Netco Analysis Group.

“Cada setor tem parte da responsabilidade, embora a maior parte recaia sobre o governo federal. No entanto, a questão é que existem visões diferentes”, disse Morales à BNamericas.

No mês passado, a câmara de construção de Santa Cruz disse que as obras públicas estão praticamente paradas, já que apenas projetos privados estão avançando.

Segundo Morales, as tensões políticas já prejudicaram a economia de Santa Cruz antes, embora o departamento represente um terço do PIB nacional.

“O potencial de alimentos, exportação agrícola, gás e até start-ups [de Santa Cruz] permite a existência de um ecossistema de negócios, inovação e capacidade de adaptação que tem apoiado e impulsionado significativamente a recuperação do país, que poderia ser ainda maior com uma política econômica compartilhada entre a administração local e o governo central”, avaliou ele.

Historicamente, Santa Cruz tem adotado políticas econômicas centradas em empresas privados, pelo menos nominalmente, enquanto La Paz está mais focada em planejamento centralizado e iniciativas estatais, de acordo com Morales.

As tensões aumentaram acentuadamente sob a administração do governador Luis Fernando Camacho, que foi uma figura-chave nos protestos de 2019 e na renúncia de Evo Morales após ameaças veladas dos militares.

Mais recentemente, Camacho acusou seu antecessor, Rubén Costas, de assinar compromissos de financiamento de infraestrutura com o governo central sem ter os recursos.

Um desses compromissos diz respeito à rodovia Santa Cruz-Buena Vista-Las Cruces. O governo federal afirmou que, se Camacho não assinar um acordo intergovernamental reafirmando o compromisso de seu antecessor de financiar US$ 70 milhões, um empréstimo de US$ 112 milhões do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) estará em risco.

O projeto envolve a pavimentação de 80,9 km entre Santa Cruz, Buena Vista e Las Cruces, incluindo a construção de 20 pontes.