Transição energética no México: o que fazer com a Pemex?

Os especialistas estão preocupados com o papel que a empresa petrolífera estatal mexicana Pemex poderá desempenhar na transição energética.

“O desafio é parar de pensar na Pemex do ponto de vista da soberania e realmente pensar no que podemos fazer para que a empresa possa funcionar” em meio à sustentabilidade e às tendências ESG, disse Lourdes Melgar, pesquisadora afiliada de pesquisa do Centro de Inteligência Coletiva do MIT, durante o evento Inside LatAm: México 2023 organizado pela Moody's na Cidade do México.

Desde que a administração de Andrés Manuel López Obrador assumiu o cargo, no final de 2018, houve pressão para aumentar a capacidade de refino da Pemex, visando produzir combustíveis suficientes para satisfazer a demanda interna até ao final de 2023.

“O próximo governo que vier terá que lidar com as mudanças climáticas. Este governo não o fez, pelo contrário. Acredito que estamos em uma situação crítica por não cumprirmos os acordos internacionais e as metas nacionais que nos propusemos”, afirmou Melgar à BNamericas.

Entre as falhas da Pemex está o seu foco no processamento de petróleo pesado com refinarias obsoletas, como Cadereyta, de 44 anos, no estado de Nuevo León, e Madero, de 109 anos, no estado de Tamaulipas. Ambas poderiam ser desativadas, pois vêm obtendo apenas um terço do potencial de um barril, segundo Melgar.

“Elas já têm problemas com falta de manutenção e infraestrutura antiga, e modernizá-las exigiria investimentos extremamente grandes”, explicou, acrescentando que faria mais sentido focar nas duas instalações mais novas: a refinaria de Deer Park, no Texas, que o governo mexicano adquiriu em 2020, e a refinaria Olmeca, de 200 bilhões de pesos (US$ 11,3 bi), em Dos Bocas, no estado de Tabasco.

Com relação a Deer Park, Melgar comentou que a refinaria é forçada a cumprir os padrões ESG conforme a legislação dos EUA, enquanto Dos Bocas poderia se concentrar na petroquímica. Olmeca começou a testar a produção de gasolina primária no início de setembro e está programada para iniciar as operações em breve, com uma meta de 290 mil b/d (85% da capacidade) até dezembro.

No entanto, a refinaria, um dos projetos de assinatura de López Obrador, enfrenta controvérsia porque a proposta de orçamento para 2024 não inclui quaisquer fundos para a instalação e porque o secretário da Fazenda, Rogelio Ramírez de la O, se recusou a atualizar o investimento durante uma audiência no Congresso na terça-feira (26).

A Pemex poderia aprender com outras empresas petrolíferas estatais, como a Petrobras ou a colombiana Ecopetrol, disse no evento Roxana Muñoz, vice-presidente de análise sênior da Moody's. A primeira resolveu os seus problemas financeiros com a venda de alguns ativos, enquanto a segunda embarcou numa ambiciosa estratégia de energia limpa liderada pelo presidente Gustavo Petro.

A Pemex acumulou uma dívida de US$ 110 bilhões.

Em julho, a Moody's rebaixou a perspetiva da Pemex de estável para negativa, ao mesmo tempo que afirmou a sua classificação 'B1', dizendo que a empresa necessitaria de amplo financiamento externo, mas o seu acesso ao crédito seria limitado pelo seu fraco histórico em ESG.