Visita de representante de fundo de pensão do Reino Unido aumenta a pressão de aspectos ESG sobre mineradoras brasileiras

O presidente do fórum de fundos de pensão das autoridades locais do Reino Unido (LAPFF), Doug McMurdo, iniciou uma visita de duas semanas ao Brasil para avaliar os impactos dos colapsos devastadores de duas barragens de rejeitos de minas nos últimos anos e as medidas adotadas pelas empresas para remediar os danos.

“Esta viagem está atrasada. Eu planejava visitar o país antes da pandemia de Covid. O lado bom do atraso é que tive mais dois anos para me envolver com as comunidades e empresas por vídeo para entender melhor o que vou ver quando estiver no Brasil”, revelou McMurdo, que dirige a entidade de captação de recursos que tem ativos combinados de mais de 350 bilhões de libras (US$ 424 bilhões).

“Infelizmente, em muitos aspectos, parece que houve muito pouco progresso, por exemplo, na reconstrução de casas após o rompimento da barragem de Mariana (Fundão). Estou ansioso para ver com meus próprios olhos o impacto desses desastres sobre as comunidades e entender integralmente as consequências financeiras para as empresas envolvidas, em última análise, os acionistas”, acrescentou.

Barragens de rejeitos são uma grande preocupação para mineradoras no Brasil. O primeiro grande desastre no país, em 2015, envolveu o rompimento de uma barragem em Mariana, Minas Gerais, operada pela pelotizadora de minério de ferro Samarco, joint venture entre a Vale e a BHP. O segundo ocorreu em 2019, em Brumadinho, em uma mina da Vale. Juntos, os desastres causaram cerca de 300 mortes e tiveram graves desdobramentos ambientais.

A visita de McMurdo, que passará por sete das comunidades afetadas, aumentará a pressão sobre as mineradoras que operam no Brasil em um momento em que os investidores globais estão prestando cada vez mais atenção em aspectos ESG.

“Atualmente, para conseguir captar recursos a taxas razoáveis, é obrigatório seguir as práticas ESG. Cada vez mais empreendedores e empresários entendem isso. Quem for mais rápido nessa esfera terá acesso a capital mais barato, terá os maiores retornos e atrairá mais talentos também”, destacou Bruno Caldas Aranha, diretor da área de crédito produtivo e socioambiental do BNDES, banco de desenvolvimento estatal brasileiro, à BNamericas.

Durante a visita, McMurdo também planeja se encontrar com o presidente da Vale, José Penido, e com o presidente da Fundação Renova, André de Freitas. A Fundação Renova é uma organização criada pela BHP, Vale e autoridades brasileiras para administrar medidas de compensação, reparação, recuperação e reinstalação após o rompimento da barragem de Mariana.

Na semana passada, a Vale anunciou que já pagou R$ 22 bilhões (US$ 4,2 bilhões) por reparação e compensação às vítimas relacionadas ao rompimento da barragem de Brumadinho. Em 2021, a empresa concordou com as autoridades mineiras em pagar R$ 37,7 bilhões em indenização, o maior acordo desse tipo já registrado na América Latina. A maior parte do dinheiro vai para projetos de infraestrutura.